O meu filho completou 13 anos. Desde o seu nascimento até agora, o tempo passou como um fósforo a queimar-se. Experimento esta sensação à medida que fico mais madura, porque na infância e na adolescência a sensação era diametralmente diversa: o tempo arrastava e nunca mais chegava a hora em que, finalmente, seria adulta. Depois, em adulta, descobri que a ideia de liberdade era marketing enganoso. Afinal, não traz tanta paz de espírito quanto isso: pagar contas, trabalhar e uma data de limitações impostas pelo sistema. É mais difícil ser revolucionária e manter espírito idealista quando se é adulta; apesar disso, para um visionário, a idade não importa – é uma questão de viver com um pé no futuro e outro na amplidão.
Aquilo que transmito aqui acerca dos adolescentes tem a ver com aqueles com
quem convivo, nomeadamente o meu. Generalizo pela experiência. Convivo mais com
rapazes do que meninas porque a idade imberbe ainda segrega ligeiramente o sexo
oposto – quase tanto como se sente inclinada para ele.
Algo que acho muito engraçado são as expressões corporais recentes que
observo nele, como o “rolar de olhos para cima” e “olhos-silenciosos-que-querem-dizer-jamais-farei-tal-porque-isso-é-inútil”
(também conhecida como “obrigado pelos conselhos, mas vou fazer o que acho
melhor”). Não me recordo de ter feito isto quando tinha 13 anos – aqueles que
me leem e me conhecem desde essa idade, escusam de revelar intimidades, a bem
da manutenção da nossa amizade!
Outro aspecto engraçado é que tudo gira à volta da internet. Esta geração
já nasceu com o dedo conectado no telemóvel. Para eles, “comunicar” é mandar
textinhos, mensagens de voz, vídeos curtos. O telefone já não serve para
telefonar -isso é ideia tão antiquada quanto o Alexander Graham Bell. Suspeito
que seja porque manter uma conversa exige um foco de atenção muito longo. O que
observo nestes miúdos é que eles são muito rápidos, mais activos na vida, mais
dinâmicos no conhecimento e mais urgentes em tudo. Já não suportam aulas com
professores a falar durante uma hora ou escrever com papel e caneta – a verdade
é que o mundo mudou radicalmente no ensino nos últimos anos, e ninguém teve de
se adaptar tanto ao novo mundo como um professor. Os miúdos também já não
entendem as comunicações ou relações como dantes: agora é conectar e desconectar,
porque adiante há mais para descobrir. Ninguém tem paciência para ver filmes,
porque demoram muito tempo e “nunca mais chega a mensagem essencial”. Os cursos
têm de ser crash courses. Os vídeos têm de bombar com ângulos muito
inovadores e cores muito diferentes (e durar pouco, sempre).
Ainda há poucos anos se fazia piadas sobre a geração Millenial. Porém, há
dias, o meu filho disse, com grande descontracção, que eu não entendia a
perspectiva dele porque eu sou uma Millenial e ele um Geração Z. De facto, eu
nasci na virada do século e todos os que nasceram na virada do século vivem em
inquietação filosófica permanente sobre a vida, o mundo e o mais além; mas os
pós 2005, só pensam em “andar para a frente” e recusam prender-se a seja o que
for que lhes tenha trazido sofrimento. Todas as gerações de virada de século
apresentam grandes dramas existenciais – vejam Eça de Queiroz e a sua Geração de
70 do século XIX auto-intitulada “Os Vencidos da Vida”. Não deixa de haver
certo paralelo com a grande busca de sentido revolucionária da minha geração um
século depois. Já a geração do meu filho é bem mais optimista e seguramente
muito mais concreta: em última análise, com a nossa revolução, devemos ter
feito qualquer coisa de bem na criação destes buscadores da felicidade.
No fundo, tenho muita sorte, porque somos extremamente compatíveis e semelhantes.
Digamos que, se fossemos um jogo, eu seria X mas ele seria a evolução de X, a
versão aprimorada. É mais inteligente, mais aventureiro, mais corajoso. Mas
também mais determinado, mais frontal. O que eu tenho de suave, ele tem de rasgado
e pouco submisso. O que é natural, porque, de forma elementar, eu sou energia
feminina e ele masculino.
Não raro perguntam se somos irmãos porque estamos naquele momento da vida
em que temos a mesma altura e certo companheirismo vigoroso, resultado de muita
luta conjunta. De resto, ele tem um ar maduro e sério, de voz muito grossa, ao
passo que eu mantenho algo fisicamente juvenil de tempo por desabrochar. Mas
nenhum de nós admite nunca essa ou outra confusão de papéis porque mãe é mãe.
Mãe que é Mãe nunca será outra coisa.