Quando perguntaram ao famoso pianista Arthur Rubinstein como fazia para manobrar as notas com tanta mestria, ele respondeu: “Caríssimo, eu jogo com as notas como qualquer outro. Mas as pausas… É nas pausas que reside a arte!” Passe a modéstia de Rubinstein, a verdade é que as pausas são sub-valorizadas, na música como na vida.
Um workaholic, por exemplo, não consegue fazer pausas do trabalho o que, intimamente, significa que é um ser incapaz de relaxar em toda e qualquer situação, incluindo o tal trabalho, que ele jura ser compensador mas onde está tão obssessiva-compulsivamente envolvido. O nome clínico desta doença é ergomania, traduzido por mania de trabalhar. Para aqueles que estão a pensar que isso é bom, relembro que, em grego, mania significa loucura.
No fim dos anos 60, no Japão, começaram a aparecer os primeiros casos de que há memória de morte por excesso de trabalho. Aliás, o Japão é o único país – que eu saiba – que apresenta estatísticas para esta estranha morte, que denominam karoshi. Acontece que, nessa época, apenas operários morriam de karoshi… Quando, nos anos 80, começaram a morrer executivos, a Universidade de Tóquio – muito prestigiada e de onde já sairam mais de uma mão-cheia de Prémios Nobel - prestou atenção ao fenómeno e decidiu estudá-lo. Deixo para os sociólogos e economistas a observação da doença enquanto consequência de todo um espectro de país devastado pela Guerra e com uma brutal energia para ressurgir em grande (?) e para os analistas políticos a força da filosofia do comunitarianismo (ética dos poderosos, será?) na influência do pensar destes viciados.
Facto é que centenas de pessoas, nos dias de hoje, morrem de estafa, sem sinais anteriores de doença. O perfil típico é o de um homem com boa posição, que trabalha mais de doze horas por dia e sete dias por semana. Pois, mesmo que vá para casa, verifica-se que não consegue deixar de trabalhar… E muitos só vão porque a família os foi buscar aos empregos.
Nem todos os viciados no trabalho morrem. Aparentemente, muitos ficam apenas com severos problemas mentais e de memória (escusado é dizer que todos apresentam graves questões a nível de relacionamentos pessoais). O terrível paradoxo é que estas consequências individuais acabam por afectar o seu rendimento e fazê-los ter de trabalhar cada vez mais, dando origem a um ciclo de quanto mais trabalho, menos produção.
Hoje, no Japão, já inventaram um jogo de computador em que o propósito final não é sobreviver. É matar-se… de cansaço. Chama-se Suicide Salaryman. É precisamente a pergunta que me ocorre: qual é a diferença entre este karoshi e o suicidio a fogo lento?
Nota: Este artigo foi re-publicado a 30 de Julho de 2010 no A.Marginal.