... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, February 19, 2010

Persona

As crianças gostam do Carnaval. Têm a oportunidade de ser, por umas horas ou um dia, princesas, fadas, heróis, animais e tudo aquilo que a sua imaginação fizer deles, ajudada pela fantasia de uma costureira e por umas pinturas na pele. Mais tarde, na vida, descobrem que as máscaras são algo de dúbio: tão divertidas quanto assustadoras, usadas por alguns numa cerimónia e noutros como prática diária corrente, a tal ponto que se esquecem de as tirar e chegam a perder o fio ao verdadeiro indivíduo que está por detrás… Não é por acaso que as máscaras sempre foram tidas como objectos a respeitar desde a Antiguidade.


No célebre Carnaval de Veneza, cujas máscaras são de uma beleza artística incontornável, não há quem não se recorde que estes mesmos adereços serviam, em séculos passados, para esconder a identidade do portador quando este praticava situações menos abonatórias (crimes ou fosse o que fosse de ilícito) ou quando necessitava de fugir ao convencional – diríamos, em bom falar, “perder a cabeça” (mas nunca a máscara!).

Aliás, ainda hoje existe esta ideia, popularizada na frase “No Carnaval ninguém leva a mal”, façam-se as asneiras copofónicas que se fizerem, entre outras, só tristemente ultrapassadas pelas Noites de Amigos e Amigas nas quais ficaria bem usar uma máscarazita de Columbina.

Não faltam culturas nas quais a máscara é um elemento importante – dos Inuits norte-americanos com os seus totems às máscaras das diversas tribos africanas, das máscaras espirituais dos nativos da Oceânia às máscaras diabólicas da Ásia. Até nas sociedades em que é utilizada para ritos de passagem, há sempre uma força mágica e poderosa, um outro-ser de carácter extra-mundo que toma posse do indivíduo ao colocar uma máscara. Raramente, esta força é tida como benéfica. Mesmo quando é, a possessão e efeito da máscara é tão poderoso que deve ser usado com muita moderação, nunca mais do que algumas horas e seguramente apenas em determinada época do ano. Assim, o têm entendido todas as culturas. Até a nossa.

Persona é o termo usado na Psicologia de Carl Jung para falar da máscara com que todos nós nos apresentamos ao mundo. Entenda-se, a aparência que damos, o que queremos revelar. O termo persona vem do latim onde significa, precisamente, máscara.

Não é extraordinário como, contrariando todo o bom senso antropológico e humano, a vamos mantendo diariamente?