João de Melo, que disse nunca ter pretendido ser “regionalista, mas alguém com olhos açorianos” viu este seu terceiro romance receber o Grande Prémio APE em 89 e, subitamente, eclipsar o resto da sua obra, já reconhecida à época, para se tornar num sério caso de romance da condição açoriana.
Narrativa de indícios autobiográficos, começa com a viagem de Nuno Miguel, que viaja para Lisboa para ingressar no Seminário. Damo-nos conta da triste e violenta infância de Nuno e dos seus irmãos, Maria Amélia e Luís Miguel, cujas vozes também lemos: uma infância de pobreza, de trabalho e, sobretudo, dor, que os obriga a crescer depressa sem, no entanto, jamais a abandonar. Nuno e Maria Amélia deixam uma vida difícil para entrar noutra existência espartilhada e de humilhação, que ambos acabam por abandonar, deixando a religiosidade de lado. Nuno, com o seu pendor de filósofo perante a vida, sonha em combater o Estado Novo… E a Guerra, a Revolução, os Açores vestidos com outra roupagem, tudo se desenrola para voltar à Lisboa onde, ao contrário das ilhas, não se olha de frente para o mar mas sim para cima, para o céu, para tentar alcançar uma plenitude. Na memória, vive-lhe sempre essa gente “ruidosa, […] feliz com lágrimas”.
Nascido numa pequena freguesia do Nordeste em 1949, João de Melo aí viveu até aos dez anos se mudar para o continente para prosseguir estudos. Em 1971, partiu para Angola, onde esteve mais de dois anos no estranho mundo da Guerra Colonial. É inegável o peso das suas vivências nas suas obras, que lhe valeram, no mundo literário português, os epítetos de “o açoriano” e “o escritor da Guerra Colonial”. Professor e autor de uma vasta obra em géneros tão diferentes como a ficção, a antologia, o ensaio, a poesia e as crónicas de viagens, recebeu já vários prémios literários nacionais e internacionais. As suas muito conhecidas obras de ficção estão também traduzidas em várias línguas. Desde 2001, João de Melo é o Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Madrid.