... "And now for something completely different" Monty Python

Tuesday, October 18, 2011

O Jogo das Contas de Vidro de Herman Hesse



O Jogo das Contas de Vidro é um romance que joga com a utopia do conhecimento absoluto numa comunidade de intelectuais brilhantes versus a vida secular, vibrante de sensações.
Num local imaginado (com muitas semelhanças com a terra Natal do autor e sem dúvida bebendo das suas experiências educativas), Hesse conta a história de um grupo de escolas de elite, onde só os verdadeiramente dotados se dedicam ao estudo das ciências e das artes. O Jogo por eles gerado é a consagração de todas as disciplinas em conjunto, espécie de linguagem universal onde se relacionam valores e símbolos. Os jogadores fazem conciliações harmónicas de temas inicialmente paradoxais, partindo de qualquer proposição científica ou questão artística. A simbologia inerente a esta batalha mental é a “busca da perfeição, uma aproximação ao espírito que, para além de todas as pluralidades, é Um em si mesmo.”

Limando a vida até à unidade máxima, espera-se dos jogadores que sejam o ideal do Homo Universalis. As escolas são uma comunidade fechada em si própria, vivendo num tempo futuro em relação ao nosso, desprezando os académicos vulgares e pseudo-intelectuais e criticando altivamente a mesquinha materialidade e a vaidade inflamada da sociedade pública. Josef Knecht, magister ludi da Academia, homem empático e questionador, acaba por interrogar-se se sua tarefa é mais útil do que a vida de um preceptor juvenil ou do que a de um homem do campo. Dando-se conta da esterilidade que regula a vida da Academia, Knecht não pode continuar a defendê-la e abraça a vida “real”; por seu lado, a Academia teme-lhe a coragem e o carácter e etiqueta-o como perigoso.

Herman Hesse ganhou o Prémio Nobel em 1946 pela sua “escrita inspirada, que, embora sempre crescente em ousadia e espírito de penetração, nunca deixou de ser exemplo dos ideais clássicos humanitários e das mais altas qualidades”. O Prémio surgiu após a supressão das suas obras na Alemanha nazi, de onde era natural. Hesse nunca acedeu a ser igual à sua “tribo”, apesar dos desconfortos. Trocou de nacionalidade e abraçou a multiculturalidade em pleno – “que a diversidade em todas as formas e cores possa viver neste mundo” proclamou Hesse aquando do Nobel.