... "And now for something completely different" Monty Python

Sunday, October 16, 2011

A Parada Alegre


O Correio da Manhã noticiou: “Governo dos Açores promove parada gay em S. Miguel em 2012”. Agora, escolha o que isto é: 1) uma notícia do dia 1 de Abril; 2) uma anedota; 3) um erro de impressão. Nenhuma das opções referidas; ao que tudo indica, a notícia publicada em Setembro último está correcta. O Governo Regional vai promover uma Gay Parade.

Primeiro, quero esclarecer que não tenho absolutamente nada contra quem é gay. Aliás, seria ridículo eu achar-me no direito de ser contra ou a favor da opção sexual de cada um. Também não dou a ninguém a confiança de se pronunciar sobre a minha – muito menos ao Estado, a quem não me ocorre, em caso algum, que vá promovê-la. Que tem o Estado a ver com isso? O Estado promove muita coisa, e ainda bem, mas promover questões sexuais parece-me totalmente descabido. Imaginem se ao Estado lhe dá para promover a castidade. É que se lhe damos o direito para se pronunciar e deliberar sobre assuntos da nossa vida mais privada e íntima, sujeitamo-nos ao que daí advier.

Também não tenho nada contra as famosas Gay Parades. Aliás, vivi em locais onde elas existiam: Holanda e Canadá, e também cheguei a assistir na Dinamarca e nos E.U.A. São eventos cheios de cor, espécie de corso de Carnaval temático e com uma função muito particular. Nem todos os homossexuais acham interessante a participação numa Gay Parade, como é natural. Esta história de meter os homossexuais todos dentro do mesmo saco é discriminatória, por si só. Os homossexuais, como os heterossexuais (não seria preciso dizê-lo, mas parece que é…) são um grupo heterogéneo – há os tímidos e os extrovertidos, os recatados e os histriónicos, os que têm uma data de parceiros e os que vivem em união com o mesmo há muito tempo. Alguns casaram. O primeiro casamento entre homossexuais nos Açores aconteceu em Agosto de 2010. O casal Carlos e Manoel teve de lutar contra uma tonelada de burocracia e preconceitos. Tudo isso exaspera, dói e massacra.

Mas o ponto aqui não é a questão dos direitos dos gay ou de como o mundo de hoje devia ter abertura de espírito e não tem. Há muitos direitos que deviam ser respeitados, por fazerem parte dos direitos inegáveis a todo o ser humano, mas que são espezinhados todos os dias junto à nossa porta. A questão é que o Governo deve executar medidas para que os direitos dos cidadãos sejam respeitados. Sem qualquer dúvida. Dentro de tais medidas, no caso em concreto, farão parte, com certeza, a desburocratização para que mais gay possam casar-se sem que as autoridades emperrem o caso como se fosse pecado; farão parte eventualmente acções junto da população mais jovem para que os jovens gays não sejam discriminados pelos colegas mais violentos (como tanto se vê…); fará parte o que o Estado entender por bem fazer para preservar os direitos das pessoas.

Mas uma Gay Parade não é propriamente isso. É uma manifestação e, como todas as “manif”, vai quem sente na pele os problemas que advém da condição e ainda assim não vão todos, mas apenas os que concordam que desfilar pelas ruas é solução. Todas as “manif” são, indubitavelmente, movimentos de cidadãos ou de associações comunitárias. Não são promoções e organizações estaduais. Porque, obviamente, uma “manif” protesta contra o status quo. O Governo vai organizar uma “manif” para protestar contra um estado de coisas que se vive nos Açores… quando ele é o organizador da nossa sociedade?! O papel de protestante cabe aos cidadãos, senhores, não ao Governo! Quando muito, o Governo poderá apoiar as instituições que queiram expressar-se deste modo.

Claramente, nos Açores sofremos de um problema que começa a ser crónico. O Governo passou a ser o Pai de todos. Não há nenhuma iniciativa que o Governo não subsidie, não organize, não pague, não decida. E todos, filhos dependentes e nunca maiores de idade, ficam sem autonomia mas também sem voz. Isto é muito confortável para os filhos que vivem sempre à custa de. Simplesmente, não podem jamais dizer que algo está mal... De vez em quando, chega-se ao ridículo de situações como esta que não se passam noutros locais, onde o promotor se ridiculariza a si mesmo (será que sem dar por isso?).

Portanto, a partir de agora quem quiser fazer uma “manif” basta contactar aqueles contra quem protesta. Eles organizam e promovem. Parece-vos estranho? Bem, não tão estranho quanto ver a “manif” em si. Sim, porque isto das Gay Parade são basicamente Drag Queens em desfile. E eu sempre gostava de saber quem é que irá predispor-se a representar o Governo – promotor do evento – para desfilar como Drag Queen à cabeça deste corso. Não me digam que, protocolarmente, tinham esquecido esta obrigatoriedade?