As
campanhas eleitorais não trazem nunca à tona o que há de melhor nas pessoas.
Trazem os melhores sorrisos e as palavras mais cândidas, seguramente, mas há
que ter sempre presente que a intenção dos candidatos é levar o povo a dar-lhes
o seu voto, pelo que – passe a dureza da expressão – o que cada candidato está
a fazer é a vender-se e, consequentemente, tem de apresentar o seu lado mais
atraente, a sua melhor promessa, o seu melhor discurso regado a Colgate.
Ninguém nos vende uma casa sem pintar as manchas de bolor que daqui a 5 meses
nos vão, fatalmente, voltar a aparecer nas paredes.
Mas
isto é óbvio, expectável e compreensível. Faz parte.
O
que não devia fazer parte dessa auto-promoção fatal é a utilização de menores.
Falo, concretamente, do uso de crianças nas campanhas eleitorais. Poucas coisas
me revoltam tanto como o abuso de criancinhas, e esta é, quer queiramos quer
não, uma forma de abuso. Se não, vejamos: está-se a usar a imagem e / ou a
presença de um menor, que não faz ideia daquilo para o qual está a contribuir
(pois ainda que grite o nome do partido porque lho mandaram fazer é mais do que
claro que o menor não tem qualquer noção nem do ideal nem do que um voto
acarreta, se é que compreende o sistema tão pouco). Não raras são as campanhas
que o fazem. De facto, existem mesmo aquelas que pedem a crianças para se
juntarem para tirar fotografias para a página do partido ou para distribuição
nas redes sociais, que se juntem a gritar o nome do partido quando a televisão
aparecer, enfim… Se se portarem bem, ganham um boné. Mal comparado, e desde já
me perdoem o extenso exagero, a prostituição funciona um bocado assim – mas as
consequências são, obviamente, bastante mais gravosas, tanto física como
psicologicamente.
Isto
é negócio antigo e vezeiro. Na campanha para as presidenciais dos E.U.A., a Sra
Sarah Palin, experiente na política, não ignorava que a utilização de crianças
e de desprotegidos é uma arma eficaz de campanha. Não se coibiu de usar a
própria filha, que tem Síndroma de Down, e de andar com ela, acima e abaixo
(nunca, nem antes nem depois, se viu a Sra Palin tantas vezes com a dita
menina!), provando ser uma mãe extremosa e demonstrando que sentia na pele os
problemas não só das mamãs mas das mamãs com filhos deficientes. Politicamente,
não resultou porque a sra levou o embuste um bocado longe e o povo fartou-se de
tanta aparição com a filha debaixo do braço… mas podia bem ter dado certo.
Aliás, várias estações de TV fizeram piadas sardónicas (pós-campanha, naturalmente)
ao ataque súbito de maternidade da Sra Palin, e a série Family Guy dedicou um
episódio à filha, criando-lhe uma personagem, sendo imediatamente processada
pela ex-governadora (que perdeu o processo, pois não tinha sido ela a primeira
a usar e a ridicularizar a imagem do seu rebento para fins auto-promocionais?)
Sou
totalmente contra o uso de crianças em comícios, campanhas, reuniões
partidárias, festas de apoio, e tudo o que se relacione, sejam de que partido
forem. “Uso” é a palavra certa. Tem sido esta uma grande batalha minha –
infelizmente, pouco conseguida, lamento dizer. Avós, pais, tios, todos têm
direito a proclamarem a sua visão e a promoverem-se, mas deixem de parte os
meninos. Deixem-lhes o direito a ter infância.