Nunca tive grandes ilusões sobre
as chamadas “crónicas de opinião”. As opiniões são como as cabeças, o mesmo é
dizer que cada um tem a sua. Ler uma opinião é ser ouvinte numa conversa breve;
o interesse é o assunto que se levanta e não a opinião em si. É por isso que a
escolha do assunto se revela tão importante – o essencial é pôr as pessoas a
cogitar sobre uma determinada realidade.
Por isso mesmo, muito me admiro
quando alguém se sente perturbado com uma crónica de opinião. A não ser que
essa crónica tenha sido escrita com o intuito de abalar um indivíduo – e leio
algumas que são, mas não escrevo nesse sentido, até por uma questão de
elegância irónica -, não vejo porque haja razão para lesões (emocionais ou de
outra ordem).
Há algum tempo, escreveram-me uma
carta, assinada com pseudónimo, onde a autora se revelava extremamente
perturbada pelo conteúdo das minhas croniquetas. Aparentemente, é uma leitora
atenta e, como tal, eu devia até prestar-lhe uma vénia pois parece que não há
assunto que eu tenha abordado que a senhora não tenha lido. Eu própria já não
recordava ter escrito sobre alguns temas, mas eis que a dita leitora mos trouxe
à mente. A senhora, quiçá artista, abordou o assunto em verso livre. Confesso
que foi a primeira carta em verso que recebi em muitos anos. Embora insultuosa
e veladamente ameaçadora com aquele jeito de conselho paternalista que vai dizendo
que seria melhor eu não escrever mais, o facto é que a senhora me dedicou tinta
e tempo. Isso sempre honra uma pessoa. Desde a adolescência que não me faziam
quadras - de boa ou de má qualidade, não interessa. Aliás, quem sou eu para
atestar da qualidade de escrita dos outros?
Para além disso, fiquei
sinceramente surpreendida pelo facto da senhora ter gasto tanta energia para me
dedicar um ódio de estimação. Convenhamos: com tanto político, economista,
artista, e, enfim resumindo, figura pública que escreve para o jornal, a senhora
foi escolher aquela que é uma das poucas pessoas que escreve crónicas e é uma
cidadã comum. Não é necessário “tanto estrondo de armas e cavaleiros” para
derrubar uma pessoa do vulgo. O melhor seria talvez dedicar essa força a alguém
importante que pudesse fazer a diferença. Dificilmente eu, “que nem sou deste
planeta” (como amavelmente me foi explicado), poderei melhorar a vida da
senhora a curto ou a longo prazo, deixe ou não de escrever. Aliás, estas
opiniões de papel não mudam nem pretendem mudar a vida de ninguém. Jamais me
tinham dado tanto pseudo crédito, com a expressão de tanto incómodo.
Se é verdade que o Verão é uma
estação tonta no que aos jornais diz respeito, não é menos verdade que este
Verão é tudo menos tonto no que diz respeito ao futuro dos Açores. Eu, cidadã
comum, muito humildemente sugiro que se focalizem no que realmente interessa.
Diversões adjacentes e “alvos” fictícios não contribuem para mudar a existência.
Claro que é só a minha opinião. Não merece umas quantas páginas de refutação,
pondo em causa a minha capacidade mental. Não vale a pena tanto trabalho (que,
apesar de tudo, agradeço respeitosamente e até um pouco comovida).