Liza Long (estudiosa da Antiguidade Clássica, segundo a própria) publicou
um artigo sobre o seu problemático filho “Michael”, uma criança de 13 anos
incompletos que ela denomina “o próximo Adam Lanza”. Para quem já se esqueceu,
Adam Lanza foi o autor do recente massacre de Newton, matando 26 pessoas, 20
das quais crianças. Liza Long não se limita a escrever sobre Michael:
mostra-nos fotografias e vídeos de um menino, demasiado franzino para os tais 13
anos que ela diz que ele tem, mas aparentemente normal e surpreendentemente
risonho para quem, na infância, já é chamado “serial killer” por aquela que o
deu à luz.
No seu já famoso artigo, a Sra Long explica-nos que só agora fala no drama
em que vive, porque a América precisa de acordar para o problema da doença
mental das crianças e das mães coitadinhas que vivem com filhos perturbados. Já
aqui se começa a notar que a Sra Long é a estrela desta história: ela é uma
vítima, e temos de lhe dar qualquer prémio, nem que seja a atenção que ela tão
desesperadamente necessita. Após uma breve introdução sobre o drama Lanza, a
Sra Long diz que vive “aterrorizada” com Michael, esse monstro pré-adolescente
que se recusa a usar a farda da escola. Michael fala com a mamã num tom “de
crescendo beligerante” e é um rebelde nato. Conclusão desta expert: é um doente mental. Vê-se que é
o primeiro adolescente com quem a Sra Long lida na vida. Infelizmente, não será
o último, pois a Sra Long tem mais 3 filhos. Mas com esses outros 3, a Sra Long
não tem quaisquer problemas, porque nenhum deles (novamente segundo a própria)
“tem o elevado quociente de inteligência de Michael” e, por conseguinte,
“nenhum lhe desobedece”. É aqui que começamos a perceber que o problema da Sra
Long não é apenas não saber ser mãe e, de facto, desconhecer o que a palavra
“mãe” encerra; a Sra Long tem um problema adjacente – é uma narcisista nata e
vê os filhos como suas extensões. Quando descobre que Michael tem personalidade
própria, e até – para seu desgosto e não para seu orgulho, o que seria o
sentimento maternal – é inteligente, a Sra Long sente-se ameaçada. Portanto,
coloca um artigo na comunicação social a denunciar que tem entre mãos um futuro
“serial killer”.
A Sra Long diz que tem de se proteger do filho e, para tornar a sua
história mais verosímil (pois é difícil crer que aqueles 30 kg possam deitar
abaixo alguém) diz que tem de proteger os restantes filhos do primeiro. Para
tal, cada vez que Michael tem um dos seus “ataques”, a Sra Long leva-o ao
hospital e chama os psiquiatras que o acalmam com drogas. Também chama a
polícia. A Sra Long, controladora nata, aparentemente precisa da ajuda de toda
esta equipa para ameaçar um menino de 13 anos que “se não obedecer à mamã,
ficará internado na Psiquiatria.” Com este bom método, e alguns injectáveis
pelo meio, a Sra Long diz que Michael se acalma e lhe pede desculpas a chorar
por tudo o que fez, prometendo “nunca mais ser mau”. Quem é que vive
aterrorizado nesta história, afinal?
Não é Michael que é um assassino em potência; agora, quanto à Sra Long não
tenho dúvidas que já começou a matar o filho socialmente e que, dentro dela, já
o assassinou há muitos anos. Trata-se de um filicídio, coisa que na Antiguidade
Clássica (na qual a Sra Long se diz especialista) era prova irrefutável de um
carácter inseguro, ciumento, incapaz.
Eça de Queiroz opinou em Farpas:
“Diz-me a mãe que tens, dir-te-ei quem serás.” Mas eu sei que este Michael, se
tiver força para sobreviver à infância e adolescência com uma Sra Long como
mãe, terá força para ser, depois, o que ele quiser. Esperemos que ele o
descubra, a tempo.