Há uma campanha recente para a igualdade de direitos relativamente ao
casamento que tem feito furor na Austrália. Este país reconhece as uniões de
facto entre casais do mesmo sexo mas não permite o casamento. Entretanto, uma
associação chamada PFLAG (Australia’s Parents and Friends of Lesbians and Gays)
lançou a campanha para chamar a atenção das famílias compostas por casais de
sexos diferentes para que “tenham a noção de que esta é uma questão que diz
respeito a todos” e que “ser homossexual não é uma escolha; é o modo como
nascemos”.
Acontece que o anúncio é, a meu ver, bastante infeliz. Apresenta uma
grávida a fazer uma ecografia, acompanhada pelo seu radiante marido. A médica
diz que está tudo bem com o bebé e depois pergunta ao casal se eles querem
saber o que vão ter (subentende-se “menino” ou “menina”) e o casal diz que sim.
Então, a médica diz “Parabéns, vão ter uma lésbica!” ao que se segue o casal em
êxtase de felicidade pré-natal.
É só a mim que isto me parece
francamente tolo? Começo a compreender porque é que os sexólogos fazem tanto
dinheiro hoje em dia: as pessoas estão obcecadas com a orientação sexual. É
moda. Tão obcecadas que querem fazer acreditar que o próprio feto, com 3 meses
de gestação, já terá claramente essa motivação.
Na rádio, perguntaram a Júlio Machado Vaz, aquele sexólogo português que se
contorcionava todo no seu programa de televisão, o que pensava sobre o anúncio,
e, curiosamente, o médico também exprimiu que era uma tolice pegada. A
importância desmedida que as pessoas davam até há pouco tempo à formatação do
ser humano em hetero é agora a mesma importância que dão à questão de se poder
ser homo. Apetece dizer (comentou, com ironia): “Você vai ter um filho homossexual?
Porreiro, eu vou ter um benfiquista.” Porque, reparem, a quem é que a
sexualidade interessa a não ser aos próprios e a quem com eles se relaciona?
A nossa sociedade tornou-se tão especialista em publicidade que esqueceu
que há coisas íntimas: é o Facebook, é o Big Brother, são bandeiras diversas
que não deixam lugar para a intimidade de cada um.
Já para não falar no disparate subjacente que é a ideia subliminar de que
podemos saber tudo sobre os bebés antes de eles estarem cá fora, para nos
habituarmos ao suposto filho dos nossos sonhos… Como se fosse possível ter
filhos formatados (agora sim, o verbo faz sentido), consoante os nossos
apetites, sejam eles tradicionais ou de vanguarda – até conheço uma mãe que quer que o seu filho
seja, por força, homossexual embora ele não manifeste inclinação. Mas isso
dava-lhe (a ela) um ar de tolerância e liberdade, para quem acreditar que a
liberdade é uma via única.
Para quem me diz que estou a ostracizar um anúncio brilhante que fala dos
direitos iguais para toda a humanidade, respondo: e se o anúncio fosse em tudo
igual mas acabasse com a médica a dizer “Parabéns, você vai ter um negro!” Não
achavam ridículo e até ofensivo? Todos sabemos que a cor da pele ainda é
estigma, apesar de tudo. Mas não será que quanto mais importância lhe dermos não
estamos a acentuar a própria estigmatização? Se sou igual, não tenho de me
colocar à parte, de altifalante em punho.
Ainda a este propósito, muita gente se insinuou contra uma notícia de
jornal sobre um “travesti” porque ele não devia estar mencionado como tal. Mas
há dezenas de notícias sobre “estrangeiros” ou “repatriados” e ninguém acha que
isso é discriminação. Como é? Só quando se fala da orientação sexual é que é
discriminação? Estranha maneira de salvaguardarem os tais direitos iguais para
todos…