Grande descoberta, não é? A sério,
a UNICEF publicou um estudo sobre o bem-estar infantil em 29 países do mundo
industrializado. Faltam dados, mas o estudo tem a qualidade de tentar auferir a
sensação de conforto infantil de forma sensivelmente abrangente. Portugal ocupa
o 15º lugar, numa tabela em que a Holanda ficou em 1º. Isto motivou vários
estudos decorrentes sobre porque são os meninos holandeses “os mais felizes do
mundo” – a premissa não é inteiramente correta, porque ainda não se inventou um
método para medir a felicidade per si.
De qualquer forma, é interessante tentar perceber a razão e sobre isso mesmo
andei a ler.
A primeira correlação
interessante é que as mães destas crianças também estão de bem com a vida. As
holandesas são as que menos sofrem de depressão. Existe um livro da psicóloga
Ellen de Bruin que explica porquê. De Bruin diz que a holandesa nunca está
preocupada com o glamour, veste
conforme o clima e as tarefas que vai executar e não se preocupa com a sedução porque
tem prioridades diferentes; de igual forma, foi educada para ser direta e não
“fazer fretes” a outrem; é-lhe impensável ter uma posição submissa relativamente
ao homem; preza, acima de tudo, a sua liberdade individual. A juntar a este
estado de espírito, as holandesas têm enormes vantagens para assumir uma
maternidade confortável: a maioria das mães trabalha em part-time para se poder
dedicar à família e, como se isso não fosse suficiente, os holandeses são também
os pais que mais trabalham em part-time. Claro que este sistema só pode
funcionar porque tem por base uma mentalidade cultural predisposta a tal e um
Governo que apoia o conceito de família. De facto, e segundo li no Telegraaf, há 11 benefícios estaduais de
que um progenitor pode beneficiar para um filho menor (escuso-me de comparações
com Portugal).
Claro que há muito mais a
influenciar o estado de espírito de uma criança. Por exemplo, a vida escolar. A
atitude holandesa relativamente à escola é muito descontraída. Não há pressão
para ser o melhor aluno da turma. Não há trabalhos de casa: na escola
trabalha-se mas em casa brinca-se. Valoriza-se o tempo de lazer, dando-lhe a
importância que realmente tem. Aos 12 anos, os meninos fazem uma espécie de
testes de Q.I. que indicam (sem determinar) o tipo de Escola Secundária para
onde vão – porque nem todos temos de ser doutores. Também não existe a febre de
colocar os meninos na vela, no piano e na patinagem para os ter exaustos até às
7 da noite e depois na cama às 8.
Não menos importante para a
felicidade é que os miúdos holandeses comem como miúdos. Comem batatas fritas
com maionese, vendidas na rua. Comem chocolate de barrar no pão, sendo isso
pequeno-almoço comum. Comem sanduíches e bolachas. Precisamente por isso ser
normal e não proibido, não se atiram como malucos à mesa da comida quando vão a
uma festa e os pais não estão lá para ver. A descontração na gulodice faz toda
a diferença para se olhar para a comida de forma natural.
Last but not least, os miúdos são tidos em conta. A sua opinião é
escutada em vez de se sentirem minimizados pelo tamanho a terem de ser uma
cópia fiel das ideias dos pais (irritam-me os pais que querem um clone em vez
de fomentarem um ser humano autónomo). Naturalmente, isto é reflexo da tal
mentalidade de livre escolha que lhes é dada por quem os educa.