Ao leccionar uma aula sobre a Teoria das Dimensões Culturais,
lembrei-me de fazer como exercício a classificação de Portugal nesta teoria
segundo os alunos.
A Teoria é um esquema pensado por Geert Hofstede, um dos
grandes nomes a ter em conta quanto ao estudo das diferenças culturais entre
povos. Nela, Hofstede propõe cinco variáveis distintas que definiriam o
posicionamento de uma cultura: distância hierárquica, individualismo versus
colectivismo, masculinidade versus feminilidade, evitar da incerteza e
orientações a longo prazo versus a curto prazo. Claro que o esquema tem várias
limitações. Ainda assim, é bastante revelador do posicionamento cultural dos
povos. A comparação com países que obtêm valores distintos ajuda à definição
obtida.
Portugal tem um valor acima da média no que diz respeito à
distância hierárquica. É usualmente aceite que os que detêm posições mais
elevadas na sociedade detêm também mais direitos. Da mesma forma, um
subordinado espera que o seu superior hierárquico seja controlador e formal. O
elevado grau de burocracia e de morosidade são típicos de sociedades altamente
hierarquizadas. Por comparação, os EUA organizam-se em premissas de “freedom
and justice for all” e, de uma forma geral, os chefes mostram-se disponíveis
para conversas descontraídas com os subalternos. Os “degraus” sociais
escalam-se com facilidade, em sentido ascendente e descendente. Em Portugal, os
self-made man são raros…
Em relação à segunda premissa, que diz respeito ao facto de
uma sociedade ser mais independente e livre ou, pelo contrário, funcionar em
termos do bem comum, exigindo lealdade dos seus membros, Portugal demonstra ser
o mais colectivista dos países europeus. Deste modo, a família extensa assume
mais importância do que o indivíduo, a moral social mais valor do que o
pensamento pessoal e as próprias empresas acabam por exigir amor à camisola.
Portugal acredita na responsabilidade comum e dá pouca margem para a diferença.
Necessário é explicar que Hofstede entendia por sociedade
masculinizada a sociedade competitiva e aguerrida, ao passo que a feminilizada
tinha por objectivos a qualidade de vida e a cooperação. Não sendo dos países
mais femininos (a Dinamarca é um exemplo desses), Portugal é porém um país que
não aprecia a competitividade extrema e acredita na flexibilidade de
negociação.
Evitar a incerteza é uma variável que lida com a insegurança
frente ao desconhecido, ou seja, aquele sentimento de desconforto que algumas
culturas sentem frente à ansiedade perante o futuro ou tudo o que seja um risco
ao status quo. Devo dizer que Portugal rebenta com a escala. Isto significa que
qualquer fuga ao estabelecido é mal vista, que existe um código rígido de
condutas sociais e morais e que as pessoas são altamente intolerantes com
qualquer ideia pouco ortodoxa. Inovação? Nem pensar.
Quanto à última questão, os portugueses têm um coeficiente
que demonstra serem orientados a curto prazo, ou seja, gostam de manter as
aparências e as normativas, o que os aproxima das sociedades do Médio Oriente.
Estas são as conclusões actuais da equipa do Centro Hofstede
sobre Portugal – a título de curiosidade não são iguais às dos meus alunos… Mas
quem é bom avaliador de si próprio?