Frazier Glenn Miller voltou a ser preso recentemente. Para um europeu, este
nome talvez não diga nada... No entanto, nos E.U.A. é conhecido por ter fundado
o White Patriot Party, anteriormente denominado os Cavaleiros do Klu Klux Klan.
Contrariamente ao que se possa pensar, o Klu Klux Klan não morreu nos idos de
1800. Apesar de hoje em dia, os seus membros não andarem encapuçados a queimar
negros nas pradarias, o KKK está vivo e, lamentavelmente, de saúde. Tem site na
internet; é uma organização hierarquizada e ritualista, como dantes, e – se
possível – ainda mais ridícula. Isto porque alargou o seu leque de raivas. Hoje
em dia, o KKK não persegue apenas os negros; depois da Segunda Guerra, passou a
perseguir os judeus e, mais recentemente, decidiu que todos os imigrantes eram
para exterminar, porque isso feria a “supremacia branca” da América
(esquecendo, naturalmente, que antes dos colonos britânicos chegarem aos E.U.A.
já havia lá gente...)
Miller já fora preso por assassinar pessoas exactamente com o intuito de
assegurar a limpeza étnica do Missouri. Mas, desta vez, a sua prisão tem tanto
de inesperado como de invulgar. Miller foi apanhado num carro, em pleno acto
sexual com um prostituto negro. Esta detenção apanhou toda a gente de surpresa,
sendo que os agentes quase não acreditavam que um racista como Miller estivesse
envolvido com um miúdo negro em “actos dos quais não queremos revelar os
pormenores porque são demasiado depravados.” A incongruência desta acusação com
as suas (igualmente absurdas) convicções levou
a que o próprio Miller se sentisse na necessidade de se justificar
perante os seus seguidores. Agora reparem na razão do grande líder do KKK: “Na
verdade, eu convenci o miúdo a encontrar-se comigo porque queria dar-lhe uma
grande sova. Simplesmente, uma coisa acabou por levar à outra...” Não contente
com esta frase lapidar, que denota espantosas perturbações de vários níveis,
Miller ainda diz “Continuo a achar que um branco não deve nunca deitar-se com
uma negra, porque o filho daí decorrente é a degeneração da nossa raça.”
Este senhor de 73 anos não tem remissão possível. Não só acredita
estupidamente na supremacia de uns seres humanos em relação a outro por
genética de fototipos, como não tem problemas em admitir que a sexualidade
desde que feita de forma humilhante está muito bem como meio de punição. De
facto, serviu melhor do que uma sova.
Miller admitiu, ainda, que essas coisas modernas, como sejam os movimentos
de libertação feminina são tudo ideias para retirar ao homem o que lhe é
devido, como dono que é. “São ideias de mulheres judias, falsamente
interessadas nos direitos das mulheres; o que elas querem é espalhar a raça.” O
homem (desde que branco, protestante e descendente de saxões) tem direitos
fundamentais de posse e comando. Caso não consiga exercê-los, parece que lhe
resta sodomizar miúdos negros economicamente desfavorecidos, a julgar pelo
exemplo de Miller – e sempre com o nobre intuito de os fazer pagar pelo que
são!
Mas não é só na América que estas coisas se passam. Basta ouvirmos as
declarações de Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional Francesa, que declarou
agora que um surto do vírus ébola seria boa ideia para acabar com o problema da
imigração. Le Pen, um candidato às Europeias. Tal como Miller, ele próprio
ex-candidato ao Senado, não é um tontinho da sua vila. É um homem que pode bem
sentar-se a assinar papeis que decidam exterminar uma parte de nós. De mansinho
e acidentalmente, claro. Para que não se perceba.
Passamos o tempo preocupados com o Ambiente e o clima e o pobrezinho do
planeta. Mas muito antes de darmos cabo do planeta, havemos de dar cabo uns dos
outros, por ignorância, raiva e sede de comando.