Lembrei-me desta
frase caricaturada por alguns comediantes portugueses quando li um artigo da
People Magazine: “What World Leaders were Doing in their 20s”. Não deixa de ser
curioso verificar o que faziam os líderes mundiais na época da indecisão, dos
trabalhos precários e da dieta pobre – isto porque quando eles tinham 20 anos,
esse seria o tempo da vida para essas misérias. Hoje, as pessoas nos 30s, como
eu, vivem as mesmas desgraças numa versão contemporânea lowgrade.
Voltando ao
artigo, os líderes abordados são Obama, Putin, Merkel, David Cameron, Bashar
Al-Assad (da Síria), Nethanyanu (de Israel), Rouhani (do Irão), Jong-Un (da
Coreia do Norte) e Jinping (da China). A lista foi elaborada por uma jornalista
americana e, obviamente, é discutível. O que, em primeiro plano, se nota é a
escassez de líderes femininos – enfim, salva-se a honra com Merkel, figura
germanicamente feminina.
Porém, o que
choca na reportagem é a perspectiva da jornalista face à importância do que
estes líderes estavam a fazer na idade das escolhas decisivas. Como todos os
jovens de 20 anos, esta gente estava a trabalhar e a divertir-se. O que
interessa é em quê e como. Claro que a jornalista escolhe o que lhe parece mais
revelador de um percurso que se adivinharia luminoso e assertivo.
De Obama, diz
ela que este escolheu ajudar num projecto de reconstrução de uma comunidade
empobrecida. Além disso, viajou numa senda spiritual e aproveitou as loucuras
inerentes à idade. Como se vê, era generoso e mente aberta, como interessa que
se mostre. Já Putin trabalhava numa agência de alta segurança e, como tal, tudo
o que lhe diz respeito é bastante secreto, só se sabendo que era um agente undercover
e que praticava judo. Suspeito e ameaçador q.b. Cameron era um jovem dedicado à
política. Mas para que não pensemos que era um tipo precocemente envelhecido,
i.e. um jota de gravatinha, sempre se diz que pertencia a um famoso clube
universitário de borgas, do qual recusa dar pormenores. O líder da Coreia do
Norte é ainda mais misterioso do que Putin, e andou a acompanhar o pai em
expedições militares, preparando-se para lhe seguir os passos como filho
obediente ao seu senhor. Já o líder da China era um jovem equilibrado, um
intelectual que aproveitou os tenros anos para conhecer as virtudes campestres
da vida aldeã. O Presidente do Irão foi um esforçado, que pagou a sua educação
e se exilou em Paris devido às suas discordâncias com o então poder vigente. O
Presidente da Síria estudava medicina; a política inesperadamente caíu-lhe ao
colo quando o irmão morreu num acidente. Já o de Israel estava nas forças de
elite do exército e até liderava raids. Como se vê, questões que a jornalista
escolhe a dedo.
Então e a
representante feminina? A jornalista podia ter dito que Merkel esteve envolvida
num projecto para a construção do campus da universidade onde estudava; podia
ter ditto que ela já pertencia a movimentos politicos; que era uma estudante de
Física muito bem sucedida… Mas o facto relevante da vida de Merkel para esta
reportagem foi que ela casou pela primeira vez nesses tenros 20 anos e que
viviam na pobreza. Ainda nos diz que Merkel casou novamente mais tarde e que
apreciava beber vodka com cereja.
Conclusão: os
aspectos importantes da vida de um homem são o que ele estuda, onde ele
trabalha, a que actividades se dedicou nos tempos livres, as suas viagens. O
importante da vida de uma mulher é quando, com quem e quantas vezes ela casou, mesmo que ela
seja, por mérito próprio, líder mundial. Atente-se também que o critério
avaliativo vem da parte de uma sua congénere feminina. E é por isto que eu me
interrogo muito sobre isso da emancipação da mulher, que me parece
completamente torpedeado por uma certa concepção de conto de fada barroco que
ainda vive na cabeça dos media e, desgraçadamente, na cabeça da maior parte das
mulheres.
A mulher não
vive de mérito próprio. Vive para um outro. Caso contrário, nos intervalos - a
acreditar neste artigo - vai bebericando
uns vodkas com cereja.