... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, January 16, 2015

Y


Em 2002, a Nature publicou um artigo que até hoje cria drama – mais por razões emocionais do que científicas. Nesse artigo, Jennifer Graves, geneticista da La Trobe University em Melbourne, predizia o fim do cromossoma Y na espécie humana. Para quem se tenha já esquecido do que aprendeu nas aulas de Biologia, convém dizer  - de forma leiga - que o cromossoma Y é um dos cromossomas sexuais, sendo a sua presença responsável pela determinação do género masculino. O outro cromossoma sexual denomina-se X e está presente em homens e mulheres. Ou seja, o género feminino é XX e o masculino é XY. Antes de passar à frente, só uma nota sobre a Prof. Jennifer Graves, amplamente insultada pelas suas pesquisas: é Distinguished Professor em La Trobe, é Emeritus Professor na Australian National University e Fellow da Academy of Science.

Assumamos que o principal problema desta teoria é: uma cientista mulher diz que, no futuro, o cromossoma sexual masculino vai desaparecer. Esta odiosa ideia não só é pouco dignificante para os homens como põe as mulheres em estado de alerta. A conservação da espécie é um grande motor do ser humano – já para não falar nas vertentes psicológicas e emotivo-sexuais que a teoria acarreta. Mas tenham calma que isto não se prevê para já: segundo Graves, vai demorar uns 10 milhões de anos para o mundo ficar sem cromossomas Y.

“Os dias do cromossoma Y estão contados e a sua morte pode levar à criação de uma nova espécie humana. Este cromossoma começou por ter cerca de 1400 genes mas perdeu 1350 deles nos últimos 300 milhões de anos” (Graves dixit). Desculpem, rapazes, mas restam-vos mesmo poucos. Não quero ser alarmista, mas olhem que o povo tem razão quando diz “já não há homens como antigamente”.

No entanto, Graves adianta que apesar deste “processo de atrito do Y ser ainda contínuo e se prever a sua extinção do genoma humano” à semelhança do desaparecimento deste cromossoma noutras espécies do reino animal, isto “não significa que teremos um mundo sem machos.” Nos animais roedores em que o cromossoma Y já desapareceu  (e.g. certas toupeiras e ratazanas) há machos. Simplesmente, o cromossoma Y foi substituído no gene SRY por outro elemento que Graves e a sua equipa confessam, até hoje, “ainda não saber o que é”.

Logo, machos teremos. Mas a sua informação genético-biológica (e tudo o que isso acarreta) será diferente. A masculinidade, no que ela contem de mais profundo e intrínseco, tem mudado com o tempo e continuará a mudar até ser algo completamente diferente do que inicialmente se tinha como tal.

Imaginem a ansiedade cultural que esta descoberta fez nascer. Desde o pós- Guerra que o nosso mundo vem enfrentando uma espécie de crise de masculinidade social, com a inversão de papeis homem-mulher, a entrada da mulher em força no mercado laboral, os movimentos feministas e a sombra de queda do patriarcado no horizonte. Há uma espécie de falta de confiança na masculinidade não raro por parte dos próprios homens. A descoberta de Graves veio acrescentar provas biológicas a um drama socio-cultural: quando um homem pensa que já não é tão homem como o seu avô, não pode atirar a culpa somente para o mundo de hoje em dia… A evolução da espécie encarregou-se disso; factualmente, ele tem menos uma vírgula de masculinidade do que o seu antecessor.

Dez anos depois da descoberta de Graves, Jennifer Hughes publicou um estudo onde contraria a sua colega. Sim, não pensem que só os homens ficam aterrorizados por pensar num mundo menos Y; as mulheres sabem que seria terrível, quanto mais não seja pelo trabalhão de assumir características relacionais para compensar a falta desse componente sexual. Graves ripostou e, apesar desse “save the males”, a teoria do desaparecimento do Y continua válida.


Isto tudo para vos dizer o seguinte, mulheres: quando acusarem os homens de falta de firmeza, de coragem, enfim… não é culpa deles; é uma degeneração genética e fatal à qual são totalmente alheios. A culpa é da raça humana onde tudo tem defeito e vem com prazo de validade.