Em 2002, a Nature publicou um
artigo que até hoje cria drama – mais por razões emocionais do que científicas.
Nesse artigo, Jennifer Graves, geneticista da La Trobe University em Melbourne,
predizia o fim do cromossoma Y na espécie humana. Para quem se tenha já
esquecido do que aprendeu nas aulas de Biologia, convém dizer - de forma leiga - que o cromossoma Y é um
dos cromossomas sexuais, sendo a sua presença responsável pela determinação do
género masculino. O outro cromossoma sexual denomina-se X e está presente em
homens e mulheres. Ou seja, o género feminino é XX e o masculino é XY. Antes de
passar à frente, só uma nota sobre a Prof. Jennifer Graves, amplamente
insultada pelas suas pesquisas: é Distinguished Professor em La Trobe, é
Emeritus Professor na Australian National University e Fellow da Academy of
Science.
Assumamos que o principal problema desta teoria é: uma cientista mulher diz
que, no futuro, o cromossoma sexual masculino vai desaparecer. Esta odiosa
ideia não só é pouco dignificante para os homens como põe as mulheres em estado
de alerta. A conservação da espécie é um grande motor do ser humano – já para
não falar nas vertentes psicológicas e emotivo-sexuais que a teoria acarreta.
Mas tenham calma que isto não se prevê para já: segundo Graves, vai demorar uns
10 milhões de anos para o mundo ficar sem cromossomas Y.
“Os dias do cromossoma Y estão contados e a sua morte pode levar à criação
de uma nova espécie humana. Este cromossoma começou por ter cerca de 1400 genes
mas perdeu 1350 deles nos últimos 300 milhões de anos” (Graves dixit). Desculpem, rapazes, mas
restam-vos mesmo poucos. Não quero ser alarmista, mas olhem que o povo tem
razão quando diz “já não há homens como antigamente”.
No entanto, Graves adianta que apesar deste “processo de atrito do Y ser
ainda contínuo e se prever a sua extinção do genoma humano” à semelhança do
desaparecimento deste cromossoma noutras espécies do reino animal, isto “não
significa que teremos um mundo sem machos.” Nos animais roedores em que o
cromossoma Y já desapareceu (e.g. certas
toupeiras e ratazanas) há machos. Simplesmente, o cromossoma Y foi substituído
no gene SRY por outro elemento que Graves e a sua equipa confessam, até hoje,
“ainda não saber o que é”.
Logo, machos teremos. Mas a sua informação genético-biológica (e tudo o que
isso acarreta) será diferente. A masculinidade, no que ela contem de mais
profundo e intrínseco, tem mudado com o tempo e continuará a mudar até ser algo
completamente diferente do que inicialmente se tinha como tal.
Imaginem a ansiedade cultural que esta descoberta fez nascer. Desde o pós-
Guerra que o nosso mundo vem enfrentando uma espécie de crise de masculinidade
social, com a inversão de papeis homem-mulher, a entrada da mulher em força no
mercado laboral, os movimentos feministas e a sombra de queda do patriarcado no
horizonte. Há uma espécie de falta de confiança na masculinidade não raro por
parte dos próprios homens. A descoberta de Graves veio acrescentar provas
biológicas a um drama socio-cultural: quando um homem pensa que já não é tão
homem como o seu avô, não pode atirar a culpa somente para o mundo de hoje em
dia… A evolução da espécie encarregou-se disso; factualmente, ele tem menos uma
vírgula de masculinidade do que o seu antecessor.
Dez anos depois da descoberta de Graves, Jennifer Hughes publicou um estudo
onde contraria a sua colega. Sim, não pensem que só os homens ficam
aterrorizados por pensar num mundo menos Y; as mulheres sabem que seria
terrível, quanto mais não seja pelo trabalhão de assumir características
relacionais para compensar a falta desse componente sexual. Graves ripostou e,
apesar desse “save the males”, a teoria do desaparecimento do Y continua
válida.
Isto tudo para vos dizer o seguinte, mulheres: quando acusarem os homens de
falta de firmeza, de coragem, enfim… não é culpa deles; é uma degeneração
genética e fatal à qual são totalmente alheios. A culpa é da raça humana onde
tudo tem defeito e vem com prazo de validade.