Queridas
mulheres, quantas vezes dizem uma conversa deste género às amigas: “Estou fora
de mim! É que esta semana o meu marido foi viajar e a minha mãe está doente. Portanto,
esta semana sou mãe solteira!” É lugar comum. A razão pela qual isto irrita as
que são, realmente, mães sozinhas, é que é um insulto para elas. Sei que não
têm sequer noção do que estão a dizer e por isso estão todas perdoadas. Mas, já
agora, não repitam. Explico porquê.
Primeiro, as
mães sozinhas têm um ordenado. Esse ordenado único tem de chegar para todas as
despesas, delas e dos filhos. Aquelas de vocês cujo companheiro vive em
Timbuctu mas contribui com metade, continuam a ter dois ordenados. Aquelas que
recebem dinheiro dos pais têm a quem recorrer quando não tiverem fundos para
comprar um impermeável ou para pagar (mais) um tratamento daquelas doenças
infantis que aparecem constantemente. Portanto, um ordenado é igual a uma casa
de família quando se é mãe sozinha. Pensem nisto dois segundos. Mas há mais.
Depois, a
questão da organização. Roça o ridículo ouvir uma mulher dizer que não consegue
trabalhar naquela semana porque, meu Deus, está sozinha com o miúdo. Como
levaria a vida em frente se lhe faltasse o cônjuge? Organização é o que passo a
expor agora. Uma mãe sozinha tem as responsabilidades do seu trabalho, as das
tarefas domésticas e as dos filhos (escola, actividades extra, festas, o que
quiserem). Vai buscar e vai levar e vai assistir e vai fazer. Todos os dias
tudo. Não lhes digam nunca que estão a perder o juízo porque fizeram isso uma
semana. O mais provável é a mãe sozinha que conhecem lamentar profundamente a
vossa falta de equilíbrio e revirar os olhos de desdém. Não é por mal, mas
soa-nos mesmo a vitimização.
Terceiro, o
apoio. Como já disse, quem está só tem de contar consigo. E tem de ser forte o
suficiente para dar à prole tudo aquilo a que eles têm direito. Quando vocês,
mulheres, chegam a casa, podem resmungar porque hoje estão a fazer o jantar
enquanto alguém dá banho ao bebé (já sabem: há quem faça estas duas coisas
diariamente, sem qualquer problema). Ou podem queixar-se de um fim de semana em
que tiveram de limpar a casa em vez de ir ao cinema. Isto para aquelas que não
têm empregada, claro. Imaginem lá que as mães sozinhas (cujo ordenado jamais
chegará para pagar uma mulher a dias) tratam disso tudo. Sem drama. Não conheço
uma casa de mãe sozinha que seja mais suja do que uma casa de mãe acompanhada.
Outro aspecto são as constantes doenças infantis. As mães acompanhadas podem
não só conjugar horários como continuarem a ir trabalhar caso os filhos
adoeçam. As mães sós ou faltam ao trabalho ou deixam a criança com alguém de
confiança, dependendo da boa vontade.
Já agora, o
trabalho. Para além do mencionado, muitas mães sozinhas são forçadas a arranjar
mais do que um emprego para fazer face às finanças. Entre vários empregos,
está-se mesmo a ver que algum há-de sair prejudicado. Quando a mandam viajar, é
mal visto dizer que não pode. As outras mulheres atacam logo com “Eu também sou
mãe e vou”. Queridas, não há comparação; nós somos full-time e a nossa
problemática não é ficar longe dos filhos três dias mas sim o facto de não os
podermos deixar sem assistência decente. Decorre disto que os filhos de mães
sozinhas são, tendencialmente, mais independentes e empreendedores, o que não
custa a perceber.
Depois, o
social. A mãe acompanhada que vai sair com as amigas vai espairecer. A mãe
sozinha, num raro momento em que saia, é uma devassa, porque está-se mesmo a
ver que “foi a um bar e deixou a pobre criança.” Há a ideia de que as mães
sozinhas são uma espécie de aranhas viúva-negra, ou seja, absolutamente
devoradoras em termos de relações (onde teriam elas tempo?).
Portanto, queridas,
talvez queiram repensar essa vossa exclamação, um pouco limitada. Mas não se
desencorajem aquelas que estão prestes a ser mães sozinhas, porque é
infinitamente melhor do que ser mal acompanhada, tanto para vós como para os
miúdos. E quando alguém vos tentar dizer o contrário, atirem com o exemplo da
infância do Presidente Obama.