... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, February 13, 2015

Choramingas


Queridas mulheres, quantas vezes dizem uma conversa deste género às amigas: “Estou fora de mim! É que esta semana o meu marido foi viajar e a minha mãe está doente. Portanto, esta semana sou mãe solteira!” É lugar comum. A razão pela qual isto irrita as que são, realmente, mães sozinhas, é que é um insulto para elas. Sei que não têm sequer noção do que estão a dizer e por isso estão todas perdoadas. Mas, já agora, não repitam. Explico porquê.

Primeiro, as mães sozinhas têm um ordenado. Esse ordenado único tem de chegar para todas as despesas, delas e dos filhos. Aquelas de vocês cujo companheiro vive em Timbuctu mas contribui com metade, continuam a ter dois ordenados. Aquelas que recebem dinheiro dos pais têm a quem recorrer quando não tiverem fundos para comprar um impermeável ou para pagar (mais) um tratamento daquelas doenças infantis que aparecem constantemente. Portanto, um ordenado é igual a uma casa de família quando se é mãe sozinha. Pensem nisto dois segundos. Mas há mais.

Depois, a questão da organização. Roça o ridículo ouvir uma mulher dizer que não consegue trabalhar naquela semana porque, meu Deus, está sozinha com o miúdo. Como levaria a vida em frente se lhe faltasse o cônjuge? Organização é o que passo a expor agora. Uma mãe sozinha tem as responsabilidades do seu trabalho, as das tarefas domésticas e as dos filhos (escola, actividades extra, festas, o que quiserem). Vai buscar e vai levar e vai assistir e vai fazer. Todos os dias tudo. Não lhes digam nunca que estão a perder o juízo porque fizeram isso uma semana. O mais provável é a mãe sozinha que conhecem lamentar profundamente a vossa falta de equilíbrio e revirar os olhos de desdém. Não é por mal, mas soa-nos mesmo a vitimização.

Terceiro, o apoio. Como já disse, quem está só tem de contar consigo. E tem de ser forte o suficiente para dar à prole tudo aquilo a que eles têm direito. Quando vocês, mulheres, chegam a casa, podem resmungar porque hoje estão a fazer o jantar enquanto alguém dá banho ao bebé (já sabem: há quem faça estas duas coisas diariamente, sem qualquer problema). Ou podem queixar-se de um fim de semana em que tiveram de limpar a casa em vez de ir ao cinema. Isto para aquelas que não têm empregada, claro. Imaginem lá que as mães sozinhas (cujo ordenado jamais chegará para pagar uma mulher a dias) tratam disso tudo. Sem drama. Não conheço uma casa de mãe sozinha que seja mais suja do que uma casa de mãe acompanhada. Outro aspecto são as constantes doenças infantis. As mães acompanhadas podem não só conjugar horários como continuarem a ir trabalhar caso os filhos adoeçam. As mães sós ou faltam ao trabalho ou deixam a criança com alguém de confiança, dependendo da boa vontade.

Já agora, o trabalho. Para além do mencionado, muitas mães sozinhas são forçadas a arranjar mais do que um emprego para fazer face às finanças. Entre vários empregos, está-se mesmo a ver que algum há-de sair prejudicado. Quando a mandam viajar, é mal visto dizer que não pode. As outras mulheres atacam logo com “Eu também sou mãe e vou”. Queridas, não há comparação; nós somos full-time e a nossa problemática não é ficar longe dos filhos três dias mas sim o facto de não os podermos deixar sem assistência decente. Decorre disto que os filhos de mães sozinhas são, tendencialmente, mais independentes e empreendedores, o que não custa a perceber.

Depois, o social. A mãe acompanhada que vai sair com as amigas vai espairecer. A mãe sozinha, num raro momento em que saia, é uma devassa, porque está-se mesmo a ver que “foi a um bar e deixou a pobre criança.” Há a ideia de que as mães sozinhas são uma espécie de aranhas viúva-negra, ou seja, absolutamente devoradoras em termos de relações (onde teriam elas tempo?).


Portanto, queridas, talvez queiram repensar essa vossa exclamação, um pouco limitada. Mas não se desencorajem aquelas que estão prestes a ser mães sozinhas, porque é infinitamente melhor do que ser mal acompanhada, tanto para vós como para os miúdos. E quando alguém vos tentar dizer o contrário, atirem com o exemplo da infância do Presidente Obama.