... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, May 8, 2015

A Teoria dos Anéis

É natural não sabermos o que dizer a alguém que está a passar por uma situação absurdamente difícil. Primeiro, porque, na maior parte das vezes, não fazemos ideia do que seja passar por isso e por outro lado porque é fácil esquecermo-nos do que é verdadeiramente importante: a outra pessoa e a sua experiência, não nós e a nossa.

A pensar nisso, Emily McDowell lançou recentemente uma série de postais que ela cognominou de “postais empáticos”. São para oferecer a alguém que está a atravessar problemas sérios, como doenças terminais, por exemplo. A ideia é que a generalidade dos postais convencionais que se veem por aí não são apenas totalmente desadequados; podem chegar a ser ofensivos. Por exemplo, dar a quem tem cancro um cartão que diz “Get well soon” ou “I wish I could be as brave as you are”.

Pesquisando sobre este tema, em breve se chega à conclusão que as pessoas que passam por situações complexas sentem que a maior parte do que lhes dizem é absolutamente deslocado ou até torna as coisas piores. Alguns dos seus amigos têm consciência disso mesmo e é (também) por isso que quando se está a viver um mau momento há tanta gente que se afasta – nem é por mal, é porque não sabem qual seja a melhor maneira de reagir. No entanto, sentir-se só também não é o que alguém em dificuldades precisa. Então o que fazer?

Um artigo de Silk e Goldman no LA Times “How not to say the wrong thing” tem a resposta para as crises médicas, legais ou existenciais. A regra de ouro é o conforto do outro, esse que está no centro do problema. A título de exemplo: X tem cancro, está no hospital e não quer receber visitas. Mas a amiga que quer muito visitá-la diz “This is not only about you!” Ah não?! Espera aí… X está doente mas isso diz respeito a quem quer satisfazer os seus desejos de compaixão? Ou não será que diz respeito a X, que sente e lida com o assunto e tem direito a fazê-lo da melhor maneira que entender?

Silk faz uso daquilo a que chama a Teoria dos Anéis. Segundo esta, no centro de um primeiro anel está a pessoa que sofre o problema na pele - um cancro, um aborto, uma violação, uma morte. Outro anel mais largo à roda do primeiro diz respeito às pessoas que, embora não sofrendo diretamente o problema, são afetadas por ele dada a sua relação de intimidade com quem sofre. Outro anel ainda mais largo diz respeito aos familiares e amigos mais distantes, e assim por diante. Então, quem está no centro do anel pode queixar-se de tudo a todos, dizer o que lhe passar pela cabeça, porque o sofrimento dela é isso mesmo: é dela. As pessoas que estão no anel seguinte podem ter essa atitude com as que estão nos anéis mais largos, mas não com ela. E assim sucessivamente: há que “explodir” com quem está nos anéis mais largos que o nosso e ajudar quem está nos anéis mais restritos. Portanto, a pessoa no centro do anel pode gritar “Mas porquê eu?”, culpar o mundo e insurgir-se contra Deus. Os restantes também podem falar de como se sentem mal eles próprios… mas não com quem se sente ainda pior do que eles. Não têm esse direito.

Da mesma forma, conselhos e “eu sei o que sentes” são absolutamente dispensáveis. As pessoas a passar por um processo de trauma não ficam melhores com conselhos, mas sim com apoio.  Sim, “this is not about you people; it’s about the suffering one.”


Sumarizando, encontrei entre os postais de McDowell um que eu gostaria de dizer aos amigos que passam por momentos maus – e que, paralelamente, também gostaria que me dissessem. É só isto: “Deixa-me ser o primeiro a dar um soco na próxima pessoa que te disser que tudo neste mundo acontece por uma razão.”