Recentemente, fui aos Açores
(“agora, é tão baratinho, não é?”) e constatei que, apesar de viajar com a
mesma companhia na ida e na volta, qualquer semelhança no handling era pura
coincidência. No aeroporto de Lisboa, siga para o destino. Açores, Irlanda ou
Paris, já se está mais do que treinado nisto do low cost, vai, fura e remata, é
tudo a mesma intenção, o mesmo expediente, a mesma celeridade, sem
problemáticas. No aeroporto de Ponta Delgada, ou seja à vinda, subitamente
encontrei-me em Tel Aviv, confusão, problemas, e uma falta de profissionalismo
atroz. Só mais tarde – e pelas piores razões – vim a descobrir que, de facto,
não é a mesma companhia que trata das operações terrestres do low cost nestes
dois aeroportos, se bem que não acredito que seja esta a verdadeira explicação.
Fiz check in online, como é
habitual a quem só leva a mala de cabine. Mesmo assim, quando cheguei, e porque
já conheço “Tel Aviv” de outros Carnavais, fui até ao balcão e perguntei à sra
se me podia dirigir à sala de embarque. Ela disse que sim, mas que tinham
muitos passageiros no voo e que eu podia “se desejasse” mandar a minha mala de
cabine para o porão sem custos adicionais, como é de uso nessas circunstâncias.
“Mas tenho de fazer isso ou não?” Ela olha para a minha malinha e diz que não,
só se eu quiser. Curiosamente, o amigo que me foi levar ao aeroporto riu-se e
comentou que a sra fardada não tinha dito coisa nenhuma com a sua conversa, ou
seja, “faça… mas olhe, faça só se quiser… pode ir”. Mal sabia ele.
Lá fui para o embarque. “Senhores
passageiros, vamos dar início…” e eis quando a mesma senhora sai do boarding
gate, vem até mim e diz que afinal a mala estava muito gorda e que eu tinha de
pagar 50 euros e mandá-la para o porão. “Desculpe, importa-se de repetir?”
Bem, a mala não tinha de ser mais
pequena – tinha as dimensões de mala de cabine e, aliás, era a mala com que eu
tinha viajado na mesma companhia de Lisboa para Ponta Delgada. Quando fiz notar
isto à sra, ela disse-me muito espontaneamente que “as pessoas em Lisboa não
trabalhavam bem!”, afirmação que dava uma crónica por si só. Mas a mala podia
ficar mais vazia… Podia, mas eu só tinha comigo uma mochila de criança que o
meu filho carregava, razão pela qual eu não tinha outra hipótese.
Neste momento, recordei à sra que
ainda há duas horas atrás ela me tinha dito para entrar com esta mala para a
sala de embarque ou, em alternativa e porque tinham mais passageiros do que
esperavam, fazer check in da mala “sem custos” dada as dimensões da mesma. A
sra confirmou mas revelou que, entretanto, “as coisas tinham mudado.” Sem
comentário.
Pedi para falar com a
supervisora. Aqui, tenho de pôr em dúvida se a sra a chamou ou se a supervisora
não se dignou aparecer porque o facto é que nunca a vi. Pedi o livro de
reclamações. Esta é a parte mais interessante: foi-me negado. Vou pôr toda a
minha boa fé aqui e acreditar que a funcionária era tão inexperiente que não
faz ideia que negar um livro de reclamações constitui um acto gravíssimo que
pode ser mais complicado para uma empresa do que, efetivamente, ter lá uma
reclamação escrita. “Reclame em Lisboa, se quiser” disse-me ela, sabendo
perfeitamente que reclamar em Lisboa não seria o mesmo já que a empresa de
handling não é a mesma. Eu agora sei porque fui reclamar em Lisboa.
Entretanto, no boarding gate
paguei os 50 euros. Ainda ficaram irritados comigo porque eu não tinha
multibanco, dei-lhes 3 notas de 20 e fiquei a saber que não são obrigados a ter
troco.
Gostei de saber que os Açores
abriram o espaço aéreo. Fiquei desiludida com a falta de profissionalismo, de
respeito e de coerência. É que é bastante fácil perder clientes. Os turistas
são apenas isso: clientes. Já a mim, como “emigrante”, o que me custa é que,
com coisas destas, possam pensar que nos Açores “as pessoas não trabalham bem!”