Perdoem-me, desde já, os
puristas da língua por eu ter usado um título em inglês, mas os mais atentos
facilmente se deram conta que estou a plagiar o título de uma música dos Pearl
Jam. Que o mundo está em mudança, não há dúvida: para tal basta que o tempo
passe. Que toda a mudança signifique evolução isso já é discutível.
A Washington State
University proibiu esta semana o uso de determinados termos na sua cadeira de
“Women and Popular Culture”. Entre estes encontram-se “male, female, illegal
alien” (macho, fêmea/masculino, feminino e imigrante ilegal). O aluno que usar
tais termos “discriminatórios e opressivos” poderá mesmo “chumbar”.
Estas preocupações ficam
bem num mundo desejoso de inclusão. No entanto, como mulher e professora
universitária, ocorre-me que o nome da cadeira não está lá muito de acordo.
“Women and Popular Culture”? Deixamos os homens de fora da cultura popular? Ou
será que as mulheres só servem para a cultura popular? Espero que a ninguém
tenha ocorrido uma possível falta de erudição das damas ao fazer este
“syllabus”! Não sei, isto causou-me comichão numa disciplina que acha que os
termos masculino e feminino são ofensivos. Ofendamo-nos já pela substância:
mudemos o nome da cadeira de imediato!
E como lidará a
disciplina com o óbvio aspeto biológico dos termos macho e fêmea? São uma
espécie de fatalidade (XY, XX) à qual não foge ninguém, nem mesmo os que
recusam a identificação cultural de género. Já os termos masculino e feminino aparecem
em todas as fichas que temos de preencher na indicação relativa ao nosso sexo.
Ultimamente há umas fichas que já incluem – por óbvia pressão social – um
quadrado extra para os indefinidos culturais, mas mesmo esses terão de convir
que a sua fisiologia, “opressiva” ou não, existe.
O Homem pertence ao Reino
Animal. Gosta de pensar que está acima dessa classificação mas a verdade é que
não. Contra isso, não há filosofias nem dói-dói. Se a Universidade disser que
estes termos estão a ser usados pejorativamente em contextos negativos, isso já
é outra conversa… Mas proibi-los de todo em todo é desconhecer a essência das
palavras.
Relativamente a “ilegal
alien” (“imigrante ilegal”) achou por bem esta cadeira explicar que o termo tem
de ser substituído por “undocumented immigrant” (“imigrante sem documentos”). É
um preciosismo porque vai dar ao mesmo; não passa de um mero jogo de palavras.
Se a ideia é demonstrar que ninguém pode ser ilegal por ser estrangeiro,
aleluia, aleluia, meus irmãos, viram a luz - mas não muito, experimentem passar
a fronteira dos E.U.A. Para além disso, deixa de se usar o sempre incomodativo
“alien” que tanto serve para “estrangeiro” como para “extraterrestre”, o que
acaba por ser – convenhamos – a mesma coisa: tudo gente que fala inglês com
sotaque e que come coisas que não lembram a ninguém.
A única consequência
prática que vejo nesta medida é a música do Sting vir a ser proibida nas
premissas universitárias, a não ser que ele mude a letra para “I’m an immigrant,
I’m a legal immigrant, I’m an Englishman in New York”… Em resumo, e como já
cantavam os Pearl Jam (agora traduzo): o Homem vai à frente, está mais
avançado, é o primeiro mamífero a usar calças!… Mas acrescento: olhem que
também é o primeiro a borrá-las…