Na noite de passagem de ano, muitas mulheres da cidade de
Colónia na Alemanha viveram uma espécie de pesadelo a três dimensões. Segundo
os registos oficiais, noventa mulheres apresentaram queixa por agressões
sexuais sendo que os agressores agiram em grupo e o seu número ascende a mais
de mil homens. Sabemos que nem todas as pessoas vítimas deste tipo de crimes apresentam
queixa (por vergonha, medo e repulsa de ter de passar por um processo que pode
não resolver coisa alguma) mas vamos supor que o número de noventa vítimas até
está correto e vamos reduzir o número de agressores a mil para efeitos de
tratamento de dados. Ainda assim, verificamos que há um espantoso número de
11.1 agressores para cada vítima! E isto numa só noite!
Estes “crimes de uma dimensão totalmente nova” segundo a
Polícia de Colónia ocorreram entre o centro histórico da cidade e a estação de
comboios. Não sabemos exatamente onde estava a Polícia, porque não há registos
de que tenha travado nenhum destes crimes, isto apesar dos grupos de homens
nunca serem menores do que cinco, o que tornava francamente visível a situação
que, além do mais, se desenrolava em espaços públicos. Será que pensavam que se
tratava de algum jogo de passagem de ano?!
Wolfgang Abers, o chefe de Polícia que falou à Comunicação
Social, não adiantou muito, mas sempre disse que “a situação era intolerável” e
que “iam tomar medidas”. Pelo que se vê deste laconismo, na prática é como
estancar uma gangrena com um penso rápido.
Felizmente, os alemães (ou as alemãs, já que não houve
vítimas do sexo masculino) podem dormir descansados caso morem perto de gente
saxónica. Abers garante que os agressores eram “árabes ou provenientes do Norte
de África”, já que todas as vítimas foram unânimes ao afirmar que os abusadores
sexuais “não falavam nem alemão nem inglês”. É curioso que se determine
imediatamente que a falta de conhecimento destas duas línguas os remeta já para
as Arábias quando tantos outros países há mas… Para além disso, Abers também
diz que os agressores estavam “bêbedos”. Não sei exatamente qual a relevância
nem de um nem de outro facto já que nem a nacionalidade nem o estado de
toxicidade de um abusador sexual diminui os crimes que ele cometeu. Mas Abers
saberá. Afinal, é o trabalho dele. Ou seria o real trabalho dele ter feito
qualquer coisa na noite de passagem de ano?
Entretanto, a Presidente da Câmara de Colónia (sim, uma
mulher), Henriette Reker achou por bem dar uma conferência de imprensa onde
expôs alguns conselhos às outras mulheres a fim de evitarem os abusos sexuais.
A falta de solidariedade feminina consegue sempre surpreender: a única coisa
que invejo nos homens é que se defendem até ao fim; já as mulheres são capazes
de se desfazerem em bocados. Reker diz que “as mulheres devem manter-se junto
de conhecidos, pedir ajuda a transeuntes e manterem-se a um braço de distância
de desconhecidos para evitar violações”. Reparem como estes conselhos são
úteis. Nunca em tempo algum se ouviu falar de alguém violada por um conhecido,
basta pedir ajuda para ser salva e se não te chegares a eles, ninguém te toca. Afinal,
a responsabilidade repousa na vítima e não no agressor, claro.
Felizmente, a Sra Presidente teve do povo e nas redes sociais
a resposta que merecia. “Como prevenir a violação? Não violando.”