... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, January 15, 2016

Como prevenir a violação: não violando


Na noite de passagem de ano, muitas mulheres da cidade de Colónia na Alemanha viveram uma espécie de pesadelo a três dimensões. Segundo os registos oficiais, noventa mulheres apresentaram queixa por agressões sexuais sendo que os agressores agiram em grupo e o seu número ascende a mais de mil homens. Sabemos que nem todas as pessoas vítimas deste tipo de crimes apresentam queixa (por vergonha, medo e repulsa de ter de passar por um processo que pode não resolver coisa alguma) mas vamos supor que o número de noventa vítimas até está correto e vamos reduzir o número de agressores a mil para efeitos de tratamento de dados. Ainda assim, verificamos que há um espantoso número de 11.1 agressores para cada vítima! E isto numa só noite!

Estes “crimes de uma dimensão totalmente nova” segundo a Polícia de Colónia ocorreram entre o centro histórico da cidade e a estação de comboios. Não sabemos exatamente onde estava a Polícia, porque não há registos de que tenha travado nenhum destes crimes, isto apesar dos grupos de homens nunca serem menores do que cinco, o que tornava francamente visível a situação que, além do mais, se desenrolava em espaços públicos. Será que pensavam que se tratava de algum jogo de passagem de ano?!

Wolfgang Abers, o chefe de Polícia que falou à Comunicação Social, não adiantou muito, mas sempre disse que “a situação era intolerável” e que “iam tomar medidas”. Pelo que se vê deste laconismo, na prática é como estancar uma gangrena com um penso rápido.

Felizmente, os alemães (ou as alemãs, já que não houve vítimas do sexo masculino) podem dormir descansados caso morem perto de gente saxónica. Abers garante que os agressores eram “árabes ou provenientes do Norte de África”, já que todas as vítimas foram unânimes ao afirmar que os abusadores sexuais “não falavam nem alemão nem inglês”. É curioso que se determine imediatamente que a falta de conhecimento destas duas línguas os remeta já para as Arábias quando tantos outros países há mas… Para além disso, Abers também diz que os agressores estavam “bêbedos”. Não sei exatamente qual a relevância nem de um nem de outro facto já que nem a nacionalidade nem o estado de toxicidade de um abusador sexual diminui os crimes que ele cometeu. Mas Abers saberá. Afinal, é o trabalho dele. Ou seria o real trabalho dele ter feito qualquer coisa na noite de passagem de ano?

Entretanto, a Presidente da Câmara de Colónia (sim, uma mulher), Henriette Reker achou por bem dar uma conferência de imprensa onde expôs alguns conselhos às outras mulheres a fim de evitarem os abusos sexuais. A falta de solidariedade feminina consegue sempre surpreender: a única coisa que invejo nos homens é que se defendem até ao fim; já as mulheres são capazes de se desfazerem em bocados. Reker diz que “as mulheres devem manter-se junto de conhecidos, pedir ajuda a transeuntes e manterem-se a um braço de distância de desconhecidos para evitar violações”. Reparem como estes conselhos são úteis. Nunca em tempo algum se ouviu falar de alguém violada por um conhecido, basta pedir ajuda para ser salva e se não te chegares a eles, ninguém te toca. Afinal, a responsabilidade repousa na vítima e não no agressor, claro.


Felizmente, a Sra Presidente teve do povo e nas redes sociais a resposta que merecia. “Como prevenir a violação? Não violando.”