Em 1983, Howard Gardner, psicólogo de Harvard, lançou a
Teoria das Inteligências Múltiplas em que dizia que não havia apenas um tipo de
inteligência - a que é medida pelo
famoso teste de QI - mas sim tipos diferentes: uma inteligência musical, uma
lógico-matemática, uma visual-espacial, uma linguística, uma corporal, uma
inter-pessoal, uma naturalista, uma intra-pessoal e uma existencial. Cada
pessoa possuiria mais ou menos habilidades num determinado tipo cognitivo, e é possível
não ser especialmente dotado em nenhum. Assim, a criança especialmente dotada
em Matemática não é mais inteligente do que aquela que conta pelos dedos mas
tem, ao invés, um excelente controlo do seu corpo. Esta teoria, aprofundada nos
anos seguintes, é hoje muito popular e conta com uma série de questionários
engraçados mas não muito válidos que qualquer um se pode divertir a fazer se os
quiser descarregar da net.
Entre amigos, decidimos fazer isso mesmo. Eu estava à espera
que me saísse a inteligência linguística mas afinal não. Sou uma intra-pessoal.
Quer isto dizer que tenho uma grande capacidade introspetiva e de reflexão, o
que conduz ao entendimento de mim mesma. Isto não surpreendeu nada os meus
amigos, alguns dos quais pertencem a essa malta do ioga e do reiki, pelo que
ouvi o comentário: “Tu não precisas de aprender a meditar, porque já nasceste
com grande capacidade de auto-conhecimento!”
Foi aí que percebi porque é que me rio tanto daquelas coisas
do “ohmmm” quando os vejo com o polegar unido ao indicador e a testa franzida
como se estivessem a fazer força….(depois vão relaxando). Eles, a princípio,
ofendiam-se comigo mas depois perceberam que não é por mal…. É mesmo porque não
entendo porque raio precisa uma pessoa de juntar os dedos e cruzar as pernas
para se concentrar em si ou, simplesmente, meditar. Nunca hei de entender
porque é necessário uma pessoa fechar os olhos para se evadir do espaço e tempo
onde está! “E fluir” como eles gostam de dizer. Caramba, é que é mesmo fácil.
Aliás, a julgar pelos meus alunos, eu diria que 98% da população consegue, tal
como eu, evadir-se de onde está sem fechar os olhos e consegue fluir com a
maior das facilidades. Não é preciso pagar aulas de meditação. Venham às
minhas: levito-vos! No entanto, como todos os professores, não faço a mínima
ideia do que estão a pensar, e nunca me atreverei a sugerir cores e imagens
bonitas… seria um pouco psicadélico!
Quando alguém me diz que tem de ir à Índia para descobrir o
seu “eu” espiritual, há qualquer coisa em mim que se retorce. Se não
conseguiste dar-te conta que tens um espírito, não é porque vais mergulhar no
Ganges (aliás, é um mergulho bem menos romântico e mais fétido do que esperas)
que vais encontra-lo. Também nunca sei o que responder quando alguém decora a
sua casa ou a sua pele com símbolos e palavras que para ele ou ela são apenas
uma moda bonita mas que para outros são a sua religião e, portanto, significam
um mundo cultural de arquétipos. É valioso quando sabemos o significado do que
estamos a fazer mas se não o sabemos é… um nadinha ridículo.
Portanto, caso tenham um amigo neo-hippy, que passa a vida a
repetir mantras mas que não sabe o que querem dizer, que murmura Hare Khrisnha
mas nem tão pouco sabe quem é Khrishna… digam-lhe com todo o bom humor para ver
um vídeo que se chama “Why Gandhi would not take your Yoga class”. É um knock
out de riso! Mas, a sério, façam ioga, se puderem. Eu não faço que aquilo é um
contorcionismo duríssimo para quem, como eu, já partiu as costas uma vez.