... "And now for something completely different" Monty Python

Saturday, April 9, 2016

O Culto da Juventude


Nalgumas sociedades, como o Japão ou os Nativos Americanos, são os velhos que são reverenciados. Privilegia-se a sua experiência de vida, deduzindo que ela se traduz em sabedoria - embora isto nem sempre seja correlativo, pois como se sabe nem todas as pessoas extraem saber do que viveram e, ademais, nem todos os que existiram durante alguns anos realmente terão vivido… De qualquer forma, segundo a teoria das probabilidades, é mais provável que tenham ocorrido maior número de situações aos que viveram mais anos e espera-se que tenham tido a inteligência suficiente para delas fazer fruto.

Porém, na nossa sociedade, a juventude é bem mais endeusada do que a velhice. Repare-se, desde já, na pergunta “Que idade tem, se não é indiscrição?” Dificilmente seria indiscrição se a quantidade de anos não fosse, em si mesma, um problema social. Depois, é clássico ouvir “Ah, parece bastante mais nova! Ninguém diria!” É suposto encararmos isso como um elogio. E talvez seja, se estiverem a falar da minha pele (não tenho a certeza porque a pele dos 17 anos é um verdadeiro horror… a minha, pelo menos, era o equivalente do Krakatoa em versão epidérmica).

Até quando se é jovem? A julgar pela teoria do Cartão Jovem, é-se jovem até aos 25. Mas pela teoria dos empréstimos bancários, é-se jovem até aos 35. Eu e uma amiga encontrámos marcas de produtos de beleza onde a faixa de “produtos para a juventude” tem um espectro tão largo quanto isto: alguns acabam aos 18 e outros apenas aos 45. Portanto, para alguns o início da idade legalmente adulta é o fim da juventude e para outros ela acaba no começo de uma possível menopausa. Desconfiamos que nada disto tem a ver com faixa etária – somos ambas exatamente da mesma idade mas dir-se-ia que temos uns dez anos de diferença, e quando começamos a falar essa confusão etária aumenta…

A nossa teoria é a seguinte: há um primeiro momento em que somos jovens. É o momento de felicidade em que, finalmente!, deixámos de ser crianças e, por via da fatal passagem do calendário entrámos em cheio na juventude. É aquele período que toda a gente quer e até parece que nunca mais chegava. Parece que vamos poder, enfim, fazer coisas. Pois, na verdade, até aquele momento chegar sempre quisemos ser mais velhas! Depois, por consequência, entramos noutro momento, que é o ainda somos jovens. É fácil saber se alguém está nesse momento ou não: é quando a pessoa deixa de querer ser mais velha do que é. Uma pessoa de 18 anos ainda não está satisfeita; chegou aos 18 e já percebeu que, afinal, não é assim tão diferente de ter 17 de modo que anseia pelos 21… E assim por diante. Mas é bastante mais difícil encontrar um tipo de 30 ansioso pela chegada dos 35… Vem, depois, um terceiro período que é o “já não somos jovens”.


As pessoas que aceitam bem este período último são aquelas que se estão, positivamente, nas tintas. Com isto quero dizer são que aproveitam a vida da mesma forma, mas sem crise. Isto é ser o oposto de Paul Wolscht, homem canadiano de 52 anos, pai de sete filhos, que agora se chama Stefonknee, enfiou uma saia de folhos e laço no cabelo e foi viver como filho adotivo de um casal. Wolscht declara que é agora uma menina de seis anos, e encontrou a sua verdadeira idade (e identidade). Exemplo extremo, eu sei… Mas é um caso que está a ser muito acarinhado pela comunidade transgénero. Como eu sou politicamente incorreta, tenho de dizer: Paul, não se vive duas infâncias. Já foste (neste caso, literalmente).