Os Hollywood Vampires vieram tocar ao Rock in Rio. Eles
são assim um mix de outras bandas, formados por Alice Cooper, Joe Perry
(guitarrista dos Aerosmith) e por Johnny Depp, que é actor e cuja maior
habilidade não está em tocar guitarra. Antes de continuar, quero dizer que
sempre fui fã do Johnny Depp. Fã é understatement. Tinha 15 anos e gostava imenso
dele. Gostava imenso dele ainda na semana passada. Fiquei muito emocionada com
o “Eduardo Mãos de Tesoura” e o “Chocolat”, grandes fairy tale dos tempos
modernos. Fantástico em Sweeney Todd e até lhe acho imensa graça como Jack
Sparrow, Mad Hatter e o escritor de Neverland. Apesar de ser o DiCaprio a fazer
um excelente papel como deficiente mental em “Who’s eating Gilbert Grape”, era
do Johnny Depp (que, na verdade, não faz lá nada de especial a não ser um rapaz
atraente, confuso e perdido) que eu gostava. A (minha) Natureza explica isto
melhor do que eu.
Mais ou menos no mesmo dia que os Hollywood Vampires tocaram
em Lisboa, chega a notícia (que só é notícia porque Depp é ele mesmo e não um
anónimo): a actual mulher de Johnny Depp com a cara ferida, acusa-o de abuso
físico e pede o divórcio. Então, todas as fãs do Johnny dizem que não pode ser,
lá fica o nosso mito destruído, ninguém quer ver as suas ideias adolescentes
estragadas, lá que o vizinho da frente bata na mulher é uma coisa, mas um ídolo
nosso é que não! E toca de inundar a internet com comentários, chamando Amber
Heard (actual mulher dele, e – para desgraça dela – bonitinha e não do tipo
submisso) de todos os nomes que vêm no catálogo. Também há uma data de homens
pró-Depp que se levantam a dizer que não pode ser, que esta Heard tem mesmo
cara disto e daquilo e que as mulheres querem é dinheiro, e porque é que ela
nunca se queixou,e parte para outra Johnny que há muitas que te querem.
Ele há-de haver muitas, senhores. Mas esta, em particular, já
não o quer. Pois não esqueçamos que quem pede o divórcio é ela. A mim, nem me
parece prova contrária o facto da sua ex mulher vir dizer que a relação anterior
deles durou 14 anos e continua a ser maravilhosa. Pois se é maravilhosa, porque
carga de água se divorciaram?
Eu era grande fã do Johhny Depp. Grande fã da figura que o
meu imaginário construíu do Johnny Depp. Porque eu não conheço o Johnny Depp. E
caso o tivesse conhecido – podia ter trabalhado no Rock in Rio, como conheço
quem faça – conheceria apenas a faceta da figura que ele queria mostrar. O
homem simpático, que alastra beneficiência e charme na sua vida pública, como o
é toda a vida de um actor. Questão de marketing da parte dele e de ilusão da
minha. Não desminto que parte da culpa da ilusão é do próprio iludido, e a mim
me cabe desfazer o elo.
Não é irrelevante que esta mesma semana apareça a notícia da
menina de 16 anos violada por 33 homens no Brasil. Para uns, estava a pedi-las
porque era promíscua; para outros, vítima de crime. Por mais que fosse
promíscua, como não ver este gangue como um grupo de criminosos? Até o gangue
maior da favela brasileira onde isto aconteceu os condenou. É interessante
verificar como os criminosos se condenam entre si, consoante o tipo de crime
cometido mas a nossa puritana sociedade os absolve porque são todos bons
rapazes... São todos actores bonitinhos.