... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, June 3, 2016

Johnny Be Good

Os Hollywood Vampires vieram tocar ao Rock in Rio. Eles são assim um mix de outras bandas, formados por Alice Cooper, Joe Perry (guitarrista dos Aerosmith) e por Johnny Depp, que é actor e cuja maior habilidade não está em tocar guitarra. Antes de continuar, quero dizer que sempre fui fã do Johnny Depp. Fã é understatement. Tinha 15 anos e gostava imenso dele. Gostava imenso dele ainda na semana passada. Fiquei muito emocionada com o “Eduardo Mãos de Tesoura” e o “Chocolat”, grandes fairy tale dos tempos modernos. Fantástico em Sweeney Todd e até lhe acho imensa graça como Jack Sparrow, Mad Hatter e o escritor de Neverland. Apesar de ser o DiCaprio a fazer um excelente papel como deficiente mental em “Who’s eating Gilbert Grape”, era do Johnny Depp (que, na verdade, não faz lá nada de especial a não ser um rapaz atraente, confuso e perdido) que eu gostava. A (minha) Natureza explica isto melhor do que eu.

Mais ou menos no mesmo dia que os Hollywood Vampires tocaram em Lisboa, chega a notícia (que só é notícia porque Depp é ele mesmo e não um anónimo): a actual mulher de Johnny Depp com a cara ferida, acusa-o de abuso físico e pede o divórcio. Então, todas as fãs do Johnny dizem que não pode ser, lá fica o nosso mito destruído, ninguém quer ver as suas ideias adolescentes estragadas, lá que o vizinho da frente bata na mulher é uma coisa, mas um ídolo nosso é que não! E toca de inundar a internet com comentários, chamando Amber Heard (actual mulher dele, e – para desgraça dela – bonitinha e não do tipo submisso) de todos os nomes que vêm no catálogo. Também há uma data de homens pró-Depp que se levantam a dizer que não pode ser, que esta Heard tem mesmo cara disto e daquilo e que as mulheres querem é dinheiro, e porque é que ela nunca se queixou,e parte para outra Johnny que há muitas que te querem.

Ele há-de haver muitas, senhores. Mas esta, em particular, já não o quer. Pois não esqueçamos que quem pede o divórcio é ela. A mim, nem me parece prova contrária o facto da sua ex mulher vir dizer que a relação anterior deles durou 14 anos e continua a ser maravilhosa. Pois se é maravilhosa, porque carga de água se divorciaram?

Eu era grande fã do Johhny Depp. Grande fã da figura que o meu imaginário construíu do Johnny Depp. Porque eu não conheço o Johnny Depp. E caso o tivesse conhecido – podia ter trabalhado no Rock in Rio, como conheço quem faça – conheceria apenas a faceta da figura que ele queria mostrar. O homem simpático, que alastra beneficiência e charme na sua vida pública, como o é toda a vida de um actor. Questão de marketing da parte dele e de ilusão da minha. Não desminto que parte da culpa da ilusão é do próprio iludido, e a mim me cabe desfazer o elo.


Não é irrelevante que esta mesma semana apareça a notícia da menina de 16 anos violada por 33 homens no Brasil. Para uns, estava a pedi-las porque era promíscua; para outros, vítima de crime. Por mais que fosse promíscua, como não ver este gangue como um grupo de criminosos? Até o gangue maior da favela brasileira onde isto aconteceu os condenou. É interessante verificar como os criminosos se condenam entre si, consoante o tipo de crime cometido mas a nossa puritana sociedade os absolve porque são todos bons rapazes... São todos actores bonitinhos.