Um amigo meu,
grego ortodoxo de origem, disse-me que o seu nome significa "aquele que é
amado”. Com este significado, eu só conhecia o nome judeu "David" mas
ele explicou que o seu nome – “Agapitos” - contem a mesma semântica.
Apaixonada pelas
línguas, perguntei-lhe como se dizia "Amor" em grego. "Mas
qual das variantes?" questionou ele. Não percebi. Ele insistiu: “Qual das
variantes de Amor?”
A língua grega distingue vários tipos de Amor. Porque uma língua reflete
uma cultura e a verdade é que usamos a mesma palavra Amor para
sentimentos tão diferentes. Os ingleses, então, exageram! Love serve
para tudo desde "I love coffee" a "I love walking in the
rain" a "I love you" - e a facilidade com que dizem este "I
love you" é mesmo impressionante... sem o peso, quase sentencial, de
"Eu amo-te". Os portugueses não gostam de "Eu amo-te".
Parece muito definitivo e comprometedor. Mas mesmo usando o subterfúgio
"Eu gosto de ti" não há volta a dar quanto ao sentimento porque
estamos sempre a falar do substantivo Amor.
Os gregos não.
Os gregos não ignoram a realidade. Aos vários tipos de Amor deram
palavras completamente diferentes. Arrumaram o assunto sem confusões.
Agápe é a raiz do nome do meu amigo.
Agápe é o Amor por excelência, o Amor incondicional, a afeição profunda, a paz
no Amor, a partilha no Amor, o Amor que não se incomoda por fazer sacrifícios,
o Amor que está presente, o Amor, ponto final. É possível senti-lo por um Deus,
um filho, um companheiro, um cão. Na língua grega, não há distinção de por quem
se pode sentir este Amor assim. É o sentimento que conta, não o "objecto"
dele.
Mas
há outros tipos de Amor e todos sabemos disso. Talvez se misturem, por vezes. Atire
a primeira pedra quem nunca fez confusão ou até se iludiu durante anos.
Philia
seria um Amor de companheirismo. Implica
conforto, familiaridade e lealdade. Não existe nele paixão, mas existe
constância. É o tipo de Amor que une ao longo do tempo. Não é encarado apenas
como aquele cimento entre amigos e família, mas também como aqueles amores que
nutrimos por algo que gostamos muito de fazer (daí philosophia, amor pela
sabedoria). A lealdade solidifica-se numa base regular e contínua, quando a
compreensão intuitiva e o gosto comum existem entre pessoas de quem gostamos
muito.
Ainda há um amor a que se chama Storge,
espécie de afeição costumeira, isto é, adquirida pelo costume de estar com
alguém. Uma afeição que nasce do hábito apenas.
Se
já acham que o Amor é complicado (ou que o Amor em grego é complexo) deviam ter
ouvido a conversa. “Então" pensei "No meio de tanta designação, torna-se mais
fácil ou mais difícil explicar a alguém o que sentimos?"
"Explicar
não é importante. O importante é que tu saibas o que sentes. Isso nem sempre é fácil
e, por vezes, muda. Há que aprender a ouvir o próprio corpo. Mas quase todos
têm uma dificuldade enorme em ouvir-se e, contrariamente, vivem cheios de
pesos.” E como eu retorqui com ironia, ele calou-me daquela forma unificadora e
cativante com que os gregos encaram a vida:
“O corpo não é um vaso da alma, como diz a vossa cultura. Trata-o bem.
Escuta-o. Não está lá dentro uma substância estranha, não competem os dois… Toda
tu és essa alma. És uma só."
Por vezes, fico
com a sensação de que não devia (ainda) ser professora. Afinal, sou estudante.