-Obama amigo! Não é fácil falar contigo, pá! Já sabes que inglês não é o
meu forte, mas é para isto que estão aqui os tradutores simultâneos. Vou
explicar qual era a minha urgência. É que nós temos a solução para o problema
do Trump.
- Nós quem?
- Nós, portugueses. Enfim, nós governo de Portugal.
- Ah sim? Um momento. (Oh, Biden, tu verificaste se isto não era da Candid
Camera? Parece-me que tem todo o aspeto… Ah, é mesmo do Primeiro Ministro de
Portugal… Ok) Desculpem, coisas internas. Então, têm a solução. Vamos lá saber.
Convém que seja rápida que janeiro está quase aí.
- Precisamente, amigo. Não tem nada que saber. Aqui em Portugal eu sou
Primeiro Ministro e não ganhei as eleições.
-… Come again?!
- Again e quantas mais vezes forem precisas, amigo. Vocês têm é que
aprender connosco. Nós por cá não percebemos qual é o problema de mandarem esse
tipo embora. Vai de carrinho. Ganhou? E então? Tu estás que nem podes de o ver
entrar pela Casa Branca dentro. Tens de arranjar maneira de o meter fora. Não
há-de ser difícil. Uma treta qualquer constitucional, uma brecha legal que se
aproveite, enfim… Mas quem é, ainda por estes dias, o Presidente? És tu,
aproveita enquanto podes.
- Eh…. Pois. Não pode ser. Nós aqui não fazemos as coisas dessa maneira.
- Bem vi, pá. Tu a recebê-lo, todo gentil, na Casa Branca, a dizer que há
que perceber que a democracia é soberana, etc, etc, parecia que estavas a
engolir 500 sapos enquanto apertavas a mão ao platinado cor de laranja. Epá,
não pode ser. Vocês têm de largar essa onda de tentarem parecer gentlemen e
essa coisa da democracia. Isso são cenas absolutamente ultrapassadas. O povo
vota e tal, nhanha. Olha o povo vota e depois ganham gajos destes. O povo
interessa mas é quando interessa, amigo.
- Na verdade, o voto popular deu a vitória aos Democratas. O Donald Trump
ganhou porque o nosso sistema é um pouco diferente, existe a questão do Senado.
- Olha o Senado! Essas coisas legalistas são outra coisa que interessa
apenas e quando joga a nosso favor. É como digo: vocês têm imenso a aprender
com os latinos, caramba. Estão aí tão perto do Brasil, do México e afinal nunca
se contagiam… Olha, cuidado, que já se ouviu dizer que a Rainha de Inglaterra
mandou umas bocas sobre a democracia estar em queda nos EUA. Ainda vos apanha
de volta para a Monarquia. Então agora, que estás a promover essas virtudes
anglo saxónicas de bom perdedor e cavalheiresco…
- Há um tempo para tudo. A verdade é que não ganhámos.
- Arranja-se maneira de ganhar! Desenrasca-se!
- ….O tradutor não percebeu.
- É natural, pá. Dá-se um jeito, faz-se um arranjinho.
- … Continua a não perceber.
- Epá, salta-se para a cadeira. Não ganhar é irrelevante. O importante é
sentar no spot. Olha, já te aconselhei, meu velho. Faz o que puderes que nós
por cá assim que o Trump ganhou metemos logo cartazes por Lisboa inteira a
mostrar que não somos lá grandes amigos dele. Sem hostilizar, claro. Cenas com
piada. Nós, aqui, somos um país cheio de piadas. Até um dia, companheiro.
- Bye… (Oh, Biden… Vocês passam-me cada telefonema! Afinal, isto era ou não
uma gag? Era, não era?)