Ninguém é bom avaliador das suas
capacidades, sejam quais forem. As palavras de Confúcio “O verdadeiro
conhecimento é conhecer a extensão da nossa ignorância” encontram eco em
Sócrates “Só sei que nada sei” mas, tirando os realmente dotados, os restantes
não conseguem aceitar e nem sequer capacitar-se de que sabem, efetivamente,
pouco.
Este aparente paradoxo não é
constatação minha; é antes uma teoria comprovada por Dunning e Kruger,
investigadores da Universidade de Cornell, no ano 2000. Os cientistas
inspiraram-se em McArthur Wheeler que, em 1995, roubou um banco sem qualquer
tipo de disfarce, convencido de que por se ter vaporizado abundantemente com
sumo de limão seria invisível para as câmaras de segurança. Após ser apanhado e
confrontado com as imagens, Wheeler continuou a negar ser o ladrão e afirmou
que tudo se tratava de uma montagem. Este absurdo, que roça o ridículo, levou a
que Dunning e Kruger se interrogassem sobre excesso de confiança e realizassem
uma série de experiências nas quais pediram que os sujeitos avaliassem as suas
capacidades de sentido de humor, conhecimento gramatical e raciocínio lógico.
Na tentativa de estudar a metacognição dos indivíduos, pediram-lhes que
pré-avaliassem os seus resultados. Conclusão: os que obtiveram piores
resultados foram os que mais se sobre-estimaram (em proporção estatística) –
por exemplo, para uma taxa de sucesso de 12%, os participantes avaliavam o seu
sucesso em 62%. Em oposto a esta tendência, os que melhores resultados obtinham
sub-estimavam as suas auto-avaliações, embora não de modo tão drástico.
Posteriormente, os participantes
eram confrontados com o resultado real. Os incompetentes eram absolutamente
incapazes de reconhecer a sua incompetência. Esta característica era tão mais
relevante quanto sobressaía relativamente ao grau, isto é quanto mais
incompetente o sujeito era menos capaz era de o reconhecer, mesmo confrontado
com factos. Por outro lado, quanto mais competente mais capaz era de receber feedback
negativo em relação às suas falhas e de as modificar, incorporando mecanismos e
ações necessários para tal.
Relativamente aos que obtinham os melhores resultados, era curioso
verificar que o feedback positivo era benéfico para o intelectualmente mais
dotado, que, de forma geral, tem tendência a menosprezar-se. Conclusão
importante: a pessoa estúpida realmente não tem consciência da sua estupidez.
Muitas experiências posteriores
foram feitas com o mesmo objetivo teórico (Ehrlinger, 2008; Ferraro, 2010;
Schloesser, 2013; Sheldon, 2014). Verificou-se sempre o mesmo resultado, sendo
que inclusivamente se notou que a pessoa pouco dotada reage de forma agreste
quando confrontada com as suas limitações, colocando a “culpa” na própria
questão ou questionando a validade do teste que lhe fazem.
O inteligente reconhece que é
inteligente, mas coloca sempre muita ênfase em tudo aquilo que não sabe; por
sua vez, o tolo sofre de uma ilusão de competência em tudo paralela ao seu grau
de tolice.
Mas se o tolo comete o erro de se
propagandear especialista, já o mais dotado comete também um erro: não raro
quanto mais inteligente é mais inteligentes julga os seus pares, daí resultando
que tem muita dificuldade em relacionar-se com a falta de lógica que depois
encontra neles por pensar que advém de uma brincadeira ou má fé e não de
verdadeira estupidez.
Segundo os estudos, a parte menos
inteligente da população constitui a parte esmagadora. Mas haja esperança: é
possível combater (alguma) tolice por meio da educação, mas só desde que haja
abertura de espírito para receber informação porque quem acredita já saber tudo
nunca aprende. Assim, agradeço ao meu colega Brian que me explicou o que é o
efeito Dunning-Kruger - até ontem eu não sabia!