... "And now for something completely different" Monty Python

Thursday, April 12, 2018

O Efeito Dunning-Kruger


Ninguém é bom avaliador das suas capacidades, sejam quais forem. As palavras de Confúcio “O verdadeiro conhecimento é conhecer a extensão da nossa ignorância” encontram eco em Sócrates “Só sei que nada sei” mas, tirando os realmente dotados, os restantes não conseguem aceitar e nem sequer capacitar-se de que sabem, efetivamente, pouco.

Este aparente paradoxo não é constatação minha; é antes uma teoria comprovada por Dunning e Kruger, investigadores da Universidade de Cornell, no ano 2000. Os cientistas inspiraram-se em McArthur Wheeler que, em 1995, roubou um banco sem qualquer tipo de disfarce, convencido de que por se ter vaporizado abundantemente com sumo de limão seria invisível para as câmaras de segurança. Após ser apanhado e confrontado com as imagens, Wheeler continuou a negar ser o ladrão e afirmou que tudo se tratava de uma montagem. Este absurdo, que roça o ridículo, levou a que Dunning e Kruger se interrogassem sobre excesso de confiança e realizassem uma série de experiências nas quais pediram que os sujeitos avaliassem as suas capacidades de sentido de humor, conhecimento gramatical e raciocínio lógico. Na tentativa de estudar a metacognição dos indivíduos, pediram-lhes que pré-avaliassem os seus resultados. Conclusão: os que obtiveram piores resultados foram os que mais se sobre-estimaram (em proporção estatística) – por exemplo, para uma taxa de sucesso de 12%, os participantes avaliavam o seu sucesso em 62%. Em oposto a esta tendência, os que melhores resultados obtinham sub-estimavam as suas auto-avaliações, embora não de modo tão drástico.

Posteriormente, os participantes eram confrontados com o resultado real. Os incompetentes eram absolutamente incapazes de reconhecer a sua incompetência. Esta característica era tão mais relevante quanto sobressaía relativamente ao grau, isto é quanto mais incompetente o sujeito era menos capaz era de o reconhecer, mesmo confrontado com factos. Por outro lado, quanto mais competente mais capaz era de receber feedback negativo em relação às suas falhas e de as modificar, incorporando mecanismos e ações necessários para tal.  Relativamente aos que obtinham os melhores resultados, era curioso verificar que o feedback positivo era benéfico para o intelectualmente mais dotado, que, de forma geral, tem tendência a menosprezar-se. Conclusão importante: a pessoa estúpida realmente não tem consciência da sua estupidez.

Muitas experiências posteriores foram feitas com o mesmo objetivo teórico (Ehrlinger, 2008; Ferraro, 2010; Schloesser, 2013; Sheldon, 2014). Verificou-se sempre o mesmo resultado, sendo que inclusivamente se notou que a pessoa pouco dotada reage de forma agreste quando confrontada com as suas limitações, colocando a “culpa” na própria questão ou questionando a validade do teste que lhe fazem.

O inteligente reconhece que é inteligente, mas coloca sempre muita ênfase em tudo aquilo que não sabe; por sua vez, o tolo sofre de uma ilusão de competência em tudo paralela ao seu grau de tolice.

Mas se o tolo comete o erro de se propagandear especialista, já o mais dotado comete também um erro: não raro quanto mais inteligente é mais inteligentes julga os seus pares, daí resultando que tem muita dificuldade em relacionar-se com a falta de lógica que depois encontra neles por pensar que advém de uma brincadeira ou má fé e não de verdadeira estupidez.

Segundo os estudos, a parte menos inteligente da população constitui a parte esmagadora. Mas haja esperança: é possível combater (alguma) tolice por meio da educação, mas só desde que haja abertura de espírito para receber informação porque quem acredita já saber tudo nunca aprende. Assim, agradeço ao meu colega Brian que me explicou o que é o efeito Dunning-Kruger - até ontem eu não sabia!