Não sei o que tem a Suécia, mas
há síndromas peculiares que por lá nascem e se tornam famosos no mundo inteiro
(vide o de Estocolmo). Este é mais um deles.
Os primeiros casos apareceram nos
anos 90, mas só na década seguinte se começou a dar importância médica às
centenas de casos que afetam apenas crianças e adolescentes de famílias de
refugiados ameaçados de deportação. Na primeira década de 2000, havia tantos
casos que os refugiados foram acusados de estarem a drogar os filhos bem como
as crianças e adolescentes afetados foram sistematicamente acusados de estar a
fingir. Mas nenhuma destas teses foi provada. Pelo contrário. Testando os
pacientes com toda a sorte de estímulos, os observadores não conseguiram nunca
obter deles nenhuma reação e renderam-se às evidências: os pacientes estavam resignados a
não viver, como se tivessem escolhido um coma voluntário.
O que é o Síndroma da Resignação?
É uma espécie de apatia que vai evoluindo até à catatonia absoluta, de tal
forma que a criança/adolescente afetado passa a ter de ser alimentado por tubo.
Não fala, não abre os olhos, não demonstra sede, fome ou outra necessidade
básica. Não responde à dor, ao toque, ou
à luz, perde os reflexos. Vive como um comatoso, completamente desligado do
mundo, não fosse o cuidado da família que o mantém em casa.
Todos os afetados mantêm um pulso
normal, condições cerebrais e cardíacas normais e eram crianças/jovens
fisicamente saudáveis antes do episódio. Em comum, têm todos também o facto de
terem passado por situações muito violentas e terem vivido em ambientes
extremamente inseguros, situações das quais ambicionavam poder escapar através
do pedido de asilo das famílias na Suécia. A todas estas famílias o pedido foi
negado, o que só ocorre um par de anos após o pedido ser feito, e é depois
desta negação que o paciente começa a sofrer do Síndroma, rapidamente
evolutivo.
Não é preciso ser génio para
perceber a ligação entre a expectativa gorada de uma vida nova, livre do
trauma, e o início desta misteriosa “morte em vida” que só afeta juvenis. De
facto, há casos reportados de jovens cujas famílias conseguiram ganhar o caso
de asilo posteriormente, através de apelação, e assim que estes comatosos
souberam que não iriam voltar à vida anterior mas iriam, sim, ficar na Suécia,
o Síndroma entrou progressivamente em remissão e a recuperação foi completa!
Os céticos dirão já que os miúdos
estão a tentar compadecer o próximo. Mas os médicos afirmam o contrário. Quem
conseguiria ficar sem reação à dor, sobretudo uma criança? E qual a criança
consegue ficar anos sem se mexer e sem abrir os olhos?
Os estudos são ainda poucos sobre
este Síndroma da Resignação, mas diz-se que não é novidade no mundo. Já nos
campos nazis havia algo semelhante e entre os refugiados no Reino Unido há algo
com os mesmos sintomas a que os ingleses chamam Síndroma de Recusa
Generalizada. Pessoalmente, porque acredito que estes meninos não estão
esquecidos de viver, mas sim a lutar pela vida com as armas que possuem,
prefiro a designação inglesa.