... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, May 11, 2018

Síndroma de Resignação



Não sei o que tem a Suécia, mas há síndromas peculiares que por lá nascem e se tornam famosos no mundo inteiro (vide o de Estocolmo). Este é mais um deles.

Os primeiros casos apareceram nos anos 90, mas só na década seguinte se começou a dar importância médica às centenas de casos que afetam apenas crianças e adolescentes de famílias de refugiados ameaçados de deportação. Na primeira década de 2000, havia tantos casos que os refugiados foram acusados de estarem a drogar os filhos bem como as crianças e adolescentes afetados foram sistematicamente acusados de estar a fingir. Mas nenhuma destas teses foi provada. Pelo contrário. Testando os pacientes com toda a sorte de estímulos, os observadores não conseguiram nunca obter deles nenhuma reação e renderam-se às evidências: os pacientes estavam resignados a não viver, como se tivessem escolhido um coma voluntário.

O que é o Síndroma da Resignação? É uma espécie de apatia que vai evoluindo até à catatonia absoluta, de tal forma que a criança/adolescente afetado passa a ter de ser alimentado por tubo. Não fala, não abre os olhos, não demonstra sede, fome ou outra necessidade básica.  Não responde à dor, ao toque, ou à luz, perde os reflexos. Vive como um comatoso, completamente desligado do mundo, não fosse o cuidado da família que o mantém em casa.

Todos os afetados mantêm um pulso normal, condições cerebrais e cardíacas normais e eram crianças/jovens fisicamente saudáveis antes do episódio. Em comum, têm todos também o facto de terem passado por situações muito violentas e terem vivido em ambientes extremamente inseguros, situações das quais ambicionavam poder escapar através do pedido de asilo das famílias na Suécia. A todas estas famílias o pedido foi negado, o que só ocorre um par de anos após o pedido ser feito, e é depois desta negação que o paciente começa a sofrer do Síndroma, rapidamente evolutivo.

Não é preciso ser génio para perceber a ligação entre a expectativa gorada de uma vida nova, livre do trauma, e o início desta misteriosa “morte em vida” que só afeta juvenis. De facto, há casos reportados de jovens cujas famílias conseguiram ganhar o caso de asilo posteriormente, através de apelação, e assim que estes comatosos souberam que não iriam voltar à vida anterior mas iriam, sim, ficar na Suécia, o Síndroma entrou progressivamente em remissão e a recuperação foi completa!

Os céticos dirão já que os miúdos estão a tentar compadecer o próximo. Mas os médicos afirmam o contrário. Quem conseguiria ficar sem reação à dor, sobretudo uma criança? E qual a criança consegue ficar anos sem se mexer e sem abrir os olhos?

Os estudos são ainda poucos sobre este Síndroma da Resignação, mas diz-se que não é novidade no mundo. Já nos campos nazis havia algo semelhante e entre os refugiados no Reino Unido há algo com os mesmos sintomas a que os ingleses chamam Síndroma de Recusa Generalizada. Pessoalmente, porque acredito que estes meninos não estão esquecidos de viver, mas sim a lutar pela vida com as armas que possuem, prefiro a designação inglesa.