Nos anos 80 e princípio de 90, Boris
Becker era o campeão de ténis por excelência: ganhou 13 títulos Masters Series,
medalha olímpica de ouro, foi o mais jovem jogador de sempre a ganhar Wimbledon
com 17 anos.
Becker tinha um conjunto de
qualidades que o fizeram entrar na bolha que o mundo reserva para as suas
ilusões. Não parecia agressivo (a sociedade estava farta de tenistas como John
McEnroe); chegou a aparecer em causas sociais; tinha um ar tão distante, e com
tanta falta de colorido com aquelas pestanas amarelas, que apelou mesmo à
publicidade e era fotografado por revistas de moda. À conta de um fenómeno que
não é raro nos famosos, tornou-se atraente.
A sua fama declinou quando deixou
de ganhar títulos, mas manteve-se por conta da publicidade e histórias da sua
vida pessoal. Casou com uma mulher de origem africana, uma união que a
sociedade não encarou bem, embora gostasse do contrastante colorido,
especialmente quando ambos posaram nus em conjunto para uma revista. A polémica
acentuou-se quando se divorciaram e Becker admitiu um confronto físico devido a
um episódio de infidelidade. Tudo isto é só uma abertura para o que vem a
seguir.
Em 2017, Boris Becker declarou
falência no Reino Unido, curiosamente dois meses antes de ser declarado o Head
of Men’s Tennis da Federação Alemã. Becker tinha pedido certa soma de dinheiro
a um banco privado do Reino Unido, não a pagou e declarou que não tinha
quaisquer condições de pagar. Premissa 1: estava falido, estava no Tribunal como
réu. Premissa 2: continuava a ser uma estrela na sua terra, e no mundo. E agora
Becker, como sair desta? Os advogados de Becker não tiveram dúvidas e fizeram o
que qualquer advogado com dois dedos de testa faria: utilizaram a premissa 2
para que Becker se livrasse da premissa 1.
Alguns meses depois, em 2018, os
advogados de Becker declararam que as questões em Tribunal estão terminadas
porque Becker tem “imunidade diplomática” visto que foi nomeado adido
diplomático para o desporto e cultura da República Central Africana na União
Europeia.
A primeira coisa que ocorre é
“conveniente”. A segunda é ir procurar
ao mapa onde fica a RCA, que, provavelmente, nunca teve na UE tanta importância
como tem hoje. Mas eu ainda duvido desta realidade: a RCA serve-se de Becker
para ganhar notoriedade na UE? Ou Becker serve-se da RCA para escapar ao
Tribunal? Quanto a mim, é a segunda! Aguardo resultados para a RCA, porque até
agora quem os obteve foi Becker.
Li o testemunho de Becker (outra
coisa negativa é a necessidade de recorrer aos media para estas defesas de
caráter), dizendo que tinha aceite o convite “também com intenção de pôr termo
a esta farsa criada contra ele”. Por último, note-se que este posto diplomático
não existia até agora… não é preciso muito para verificar que foi criado à
medida para que Becker o ocupasse!
Imunidade política é conveniente
para quem a usa, claro. Mas estas próprias palavras “conveniência”, “uso” e
mesmo “imunidade”… não são, por si mesmas, prova de que algo está muito podre?