Deparei-me com um vídeo na net onde
um alemão corta a meio os seus pertences na sequência de um divórcio. O homem
tomou em sentido literal as palavras do juiz que dizia que deviam ser divididos
a meio os haveres do casal. Vai daí, muniu-se de uma serra e cortou tudo
milimetricamente: cama, televisor, cadeiras, telefone portátil, capacete de
moto, ursinho de peluche, enfim os objetos variam no tamanho e intimidade… há,
realmente, de tudo (o juiz disse tudo e ele é obediente, como os carniceiros
nazis). Inclusivé o carro. Ver para crer. Depois pôs à venda no E-Bay as suas
metades – que até atingiram preços bem elevados, porque há malucos para cortar
e malucos para comprar.
Este vídeo é bem conhecido e
apareceu em várias cadeias de televisão, incluindo Portugal, em 2015. Algumas
partes do vídeo original estavam cortadas, nomeadamente quando ele dedica o
vídeo à ex-mulher de 12 anos e diz (traduzo do alemão): “mereceste realmente a
metade… felicidades ao meu sucessor” antes da medição e cortadeira elétrica.
O que me surpreendeu foram as
reações ao vídeo. As pessoas acham hilariante. De facto, em Portugal, a pivot
da TVI achou tão engraçado que nem conseguia parar de rir enquanto dava a
notícia, desculpando-se porque aquilo era muito divertido.
Fiz, então, uma experiência e
mostrei o vídeo a pessoas divorciadas de gente descompensada (eufemismo para
gente pouco saudável): ninguém achou piada. Todos identificaram aquele sadismo
persecutório das frases do vídeo e o total nonsense aterrorizante das ações.
Uma das pessoas era uma mulher cujo marido tinha designado certos quartos em
casa onde ela e o filho não podiam entrar; eram quartos só dele. Se entrassem
levavam um choque elétrico, com “taser”. Já não tem assim tanta piada, pois
não?
Estou a ver as pessoas que leem
isto a dizer “pá, isso é gente doida”. A quantidade de doidos que conhecemos
vai muito para além do que supomos. Aliás, se estas pessoas não fossem
excelentes atores e carismáticos seres sociais, não se teriam casado…
Voltando ao vídeo, viemos a saber
que, afinal, o vídeo não passou de uma farsa. A revista da Ordem dos Advogados
alemã veio a confessar que foram os próprios que fizeram a filmagem como
chamada de atenção, por acreditarem que os divórcios conduzem a situações de disputa
que acabam muitas vezes de forma surreal como essa, na ânsia de dividir tudo
50/50. Aconselhavam, por isso, os casais a fazerem acordos pré-nupciais.
Concordo. Mas acho importante
referir outro aspeto. Há casais que se divorciam nas calmas e esses nunca vão a
Tribunal. Quem vai é porque tem um problema. As pessoas irracionais apoiam-se
nas decisões salomónicas ou estapafúrdias para exercerem crueldade ou loucura.
Jamais um juiz é responsabilizado pelas crianças que sofrem ou até morrem até porque
um juiz não pensa que um irracional vai usar a decisão dele para fazer o que
lhe apetece. Mas se o irracional tiver filhos, a coisa complica-se. Sobretudo
se for mesmo descompensado… e também tiver uma serra, um taser ou outro
daqueles brinquedos que eles têm.