Em Julho passado, a revista
científica Psychiatry Research publicou um estudo de Salas-Wright, Vaughn e
outros da Universidade de Boston sobre os imigrantes e as doenças mentais nos
E.U.A. que vem corroborar uma tese já existente chamada “healthy migrant”. Em
síntese, esta tese sustem que existe um paradoxo na imigração: apesar de ser
este um fenómeno que usualmente acarreta muito stress para o indivíduo /
família e onde co-existem diversas adversidades pessoais, sociais e fenómenos
de aculturação de dificuldade menor ou maior consoante os envolvidos, o certo é
que os imigrantes sofrem de menores problemas comportamentais e menos doenças
do foro mental quando estatisticamente comparados com a população nativa.
Esta tese não é nova. Existe,
pelo menos, desde o ano 2000 (MacDonald, Universidade de New Brunswick), mas
não é muito publicitada, sobretudo porque nos últimos anos a ideia de quase
todo o mundo é fechar fronteiras e, como em todos os estudos, promovem-se
apenas os que dão jeito à política atual.
Voltemos à questão inicial. Como
explicar esta elevada quota de imigrantes mentalmente saudáveis, mau grado as
suas vidas serem mais complexas do que as dos nativos? Segundo os estudos, há
mais do que uma razão. A primeira é a seleção inicial no país de origem, ou
seja, só decide imigrar para longe quem tem coragem para tal. Muitos tinham as
mesmas dificuldades, estavam na mesma situação, mas… preferiram não saltar. Só
vai quem já tem um esquema mental de força e pragmatismo para enfrentar o novo
e o risco, com o desconforto que isso exige. Desta seleção positiva inicial
resulta que as famílias de imigrantes / os imigrantes reportam um baixo ou
inexistente historial de problemas psíquicos. A segunda razão tem a ver com a
sua vida pós-entrada no país de acolhimento. De forma geral, a situação pessoal
e profissional do imigrante é mais dura do que a do nativo. Porém, a sua
motivação e resiliência tem igualmente níveis muito superiores, o que faz com
que uma situação causadora de ansiedade a um nativo não seja mais do que um
encolher de ombros para o imigrante trabalhador.
Os estudos foram feitos em
adultos e adolescentes (desde os 12 anos), demonstrando que existem menos doenças
psiquiátricas, menos uso de álcool e de drogas e menos nível de criminalidade
entre imigrantes do que entre nativos. Apontam, igualmente, para um estilo de
vida mais saudável. Quanto às crianças, era esperado o que dizem: as crianças
que imigram não demoram muito tempo para acolherem um país novo desde que imigrem
com a sua figura de referência. De facto, dá-se o caso de se tornarem mais culturalmente
parecidas com o país de acolhimento do que com a sua nacionalidade.
A nacionalidade do imigrante não
era fator de diferenciação, pois foram analisados imigrantes da América Latina
e do Sul, da Ásia, da África e da Europa. Apenas uma questão fica por saldar:
os estudos não diferenciaram entre imigrantes voluntários e involuntários (i.e.
refugiados e asilados), embora admitam que os últimos tenham uma (muito)
elevada concentração de Stress Pós-Traumático, Depressão e Ansiedade que os
primeiros, obviamente, não apresentam.
Dito isto, aquela conversa do
imigrante criminoso, mal inserido e coitadinho… é tese que já foi.