Suspeito
que 2019 seja ano de eleições para algo, pois raro é o ano que não
o é, já que há uma multiplicidade de cargos (não sei o que alguns
trazem de novo, mas isso seria outra crónica).
Como
tal, quero falar-vos de uma experiência da Universidade de Lund –
a universidade mais bem cotada da Suécia, entre as melhores do mundo
– que se intitula “Choice Blindness”. Lá, existe um
laboratório de Ciência Cognitiva onde, desde 2005 até hoje, Peter
Johansson, Lars Hall e outros estudam este fenómeno de cegueira de
escolha e mudanças de atitude transformativas. Trata-se de perceber
o fenómeno da escolha individual: até que ponto o indivíduo tem
consciência plena da sua escolha e, segundo esse plano racional,
porque a defende. Naturalmente isto aplica-se a todos os campos da
vida, não somente à política, mas à vida pessoal, profissional,
etc.
As
primeiras experiências foram simples. Apresentaram-se aos sujeitos
duas fotografias, para que escolhessem o rosto mais atraente.
Escolhido um, tinham de justificar a sua escolha. Posteriormente, foi
feito um truque, acabando os sujeitos por ficar com o rosto que
tinham rejeitado. Surpreendentemente, quase ninguém reclamou (e
raros deram por isso). Em seguida, foi pedido aos sujeitos para
justificarem porque gostavam mais do rosto que tinham à frente. De
notar que todos justificavam muito bem. Por ex: “Escolhi este
porque gosto mais de morenas” (sendo que, na verdade, tinham
inicialmente escolhido o rosto de uma loira que lhes tinha sido
retirado!) Os resultados mostraram que, em 75% dos casos, as pessoas
fantasiaram razões para os rostos que lhes calharam e que, recordo,
na verdade não tinham escolhido. Tão bem o fizeram que acreditaram
terem sido eles a escolher este resultado! Para “picar” os
sujeitos, foi-lhes perguntado se seriam capazes de notar algum tipo
de manipulação indevida na experiência. 84% responderam que sim.
Finalmente, quando confrontados com a sua escolha correcta (i.e. a
inicial) rejeitaram-na.
Isto é “choice blindness”, ou, se
quisermos, manipulação das nossas escolhas e a nossa própria
fantasia justificativa de que estamos a escolher o que, na verdade,
nunca escolhemos. Parece incrível mas raras são as pessoas que
escapam a isto, por pura pressão social.
Claro
que experiências posteriores incluiram questões bem mais complexas
do que rostos. Uma experiência interessante intitulava-se
“Levantando o Véu da Moralidade” e jogava com questões éticas.
As pessoas são capazes de mudar as suas opiniões sobre questões
morais, com o mesmo simples “truque de cartas” usado na
experiência dos rostos, e fazem-no com a mesma rapidez e de forma
assumidamente descomprometida (quanto à escolha inicial, a sua) e
ferozmente defensora (quanto à segunda escolha, que passam a ver
como sua).
O
mesmo se passa quanto a opções de natureza política, comprovado
com outra experiência, que mostrou que estas opções não são
construídas mas sim assumidas, sem qualquer argumento racional, e
sim por simples persuasão íntima, cuja natureza é rápida e
variável, embora não tida como tal pelo indivíduo.
Mais
se comprovou que os efeitos desta “cegueira de escolha” podem não
raro influenciar futuras escolhas e julgamentos. Quanto mais
justificativas os sujeitos davam para as escolhas finais das
experiências (que não tinham sido as suas, mas que agora assumiam,
inequivocamente, como tal) mais hipóteses tinham de para sempre
assumir estas “novas” hipóteses como sendo mesmo suas
futuramente e, assim, agarrar-se a elas. Esta ideia, denominada
auto-feedback, cria raizes no facto dos indivíduos terem tendência
a continuar a assumir o que já disseram publicamente (isto piora na
proporção de quanto mais publicamente um assunto foi dito ou quanto
mais pública determinada figura é, como se calcula).
Claro
que certas questões paralelas são interessantes aqui, como seja a
questão do debate. No fundo, e de acordo com estes resultados,
notamos que a generalidade das pessoas não debate para discutir a
sua ideia ou convicção mas tão só para fervorosamente “ficar
por cima” pois, quantas vezes, nem tão pouco estará certo de qual
é a “sua” ideia! Podia ser outra qualquer que a defenderia da
mesma forma, desde que ganhasse!
Porém,
Johansson e Hall admitem que há excepções à “cegueira de
escolha”. Existem indivíduos que resistem à pressão. Para tal,
basta-lhes usar de senso comum e da coragem de manter a sua
individualidade.
Tenhamos,
todos, um 2019 de olhos bem abertos.