“-Estás onde? Tailândia?
-Não! Taiwan.”
Invariavelmente, é este o diálogo que me dirigem.
Taiwan é, ainda hoje, um destino pouco conhecido dos europeus, se exceptuarmos uma recordação ferrugenta no fundo da memória de aqueles cuja infância se passou nos anos 80 e, portanto, lembram-se que toda a parafernália utilizada pelo público infantil tinha, na época, um pequeno selinho que dizia “Made in Taiwan.” De facto, a ilha teve um período de crescimento económico exponencial devido à sua industrialização maciça na segunda metade do século XX, aquilo a que ainda hoje se chama 臺灣奇蹟: Milagre de Taiwan. Mas depois (e antes disso) muita coisa aconteceu nesta não tão pequena ilha com menos de 37.000 km2 de área, onde vivem quase 24 milhões de pessoas (segundo o censo de 2018). Só em Taipei, a capital, vivem quase 3 milhões, um número que sobe para 7, se incluirmos os subúrbios.
Foto: as icónicas scooters da vida comunitária de Taipei
Começo, por isso, por falar das pessoas. Taipei é densamente povoado e não é um sítio a ser visitado se não se for capaz de lidar com multidão. Por outro lado, a ordem e a capacidade de gerir a vida com muita gente estão presentes em tudo na vida dos taiwaneses, desde os transportes às escolas, desde as lojas às instituições. “Fazer fila” é um hábito tão natural como respirar e ninguém pensa em “passar à frente” ou desrespeitar espaços. Não são precisas palavras; as pessoas estão habituadas a uma correcta gestão do tempo e do espaço. De resto, esperar é algo que lhes parece natural na vida. A impaciência não existe na Ásia, de forma geral, nem tão pouco se mede o tempo com a sofreguidão e a ânsia do Ocidente.
Foto: Sun Moon Lake
Em Taiwan fala-se, sobretudo, Mandarim, Taiwanês (uma variante dialectal do “Chinês”) e Hakka. Mas o passado histórico da ilha, que pertenceu ao Japão durante quase um século (até ao fim da Segunda Guerra Mundial) faz com que, pelo menos em Taipei, muita gente fale japonês. Além disso, o elevado número de imigrantes estrangeiros, nomeadamente dos EUA e da África do Sul, leva a que se possa, confortavelmente, estar em Taipei falando inglês. As pessoas nativas são de temperamento afável e procuram ajudar, mesmo quando não falam a mesma língua: puxam logo de um tradutor simultâneo, gadget que toda a gente incorporou nos telemóveis.
Foto: AliShan Mountain
O relacionamento este-oeste não é, porém, todo maravilhas. Uma das zonas de diferença cultural que se faz sentir é a maneira de lidar com o negativo. Por norma, o europeu não se furta ao confronto, à explicação do que é e do que não é, procurando a resolução de uma crise numa discussão aberta e com data aprazada; o asiático de tudo fará para evitar discussões, pois até dizer abertamente a palavra “não” lhe parece indelicado! Prefere sorrir um pouco misteriosamente e dizer “talvez” (demorei bastante tempo a perceber que isto significa “não, mas também não vamos entrar em luta”, sobretudo quando não há prazos para resolver algo que se arrasta sem definição). No entanto, existem vantagens nesta forma de ser, pois, embora inconclusiva, permite certa manutenção da paz – um valor que aqui, em Taiwan, se aprende a apreciar, seja nos templos, seja na natureza, longe do bulício e do barulho que caracterizam a vida de uma capital que nunca pára.
Foto: Floresta de WangYou
Não foi por acaso que no século XVI os marinheiros portugueses denominaram esta ilha de “Formosa”. Esse é o nome com que aparece nas cartografias de 1500s. A humidade e o calor de um clima sub-tropical – a ilha é atravessada pelo Trópico de Câncer – dão-lhe um aspecto luxuriante. Montanhas recortam a paisagem verde, vales profundos são atravessados por ribeiros que podemos passar em pontes que parecem saídas de filmes de aventuras, dos altos caem cascatas em despique, há lagos plenos de lendas e também águas quentes sulfúricas – não tão ferrosas nem tão borbulhantes como as dos Açores, portanto ideais para pensar em histórias de encantar e mistérios brumosos. Também há praias em Taiwan. Na minha opinião, Baisha Beach é a melhor: fica no sul da ilha e, tal como o nome indica, é de areia branca. Quem gosta de corais, encontra-os por aqui. Além disso, para os maluquinhos do cinema, filmou-se nesta praia “A Vida de Pi”. Quem prefere areia negra e vulcânica, pode sempre escolher uma praia como Dulan, no este da ilha… mas arrisca-se a apanhar ondas que são só para surfistas.
Foto: Baisha Beach
Lugares impressionantes a não perder pelos amantes da natureza são Taroko Gorge, um magnífico canyon de 19 km escavado pelo Rio Liwu; a Jade Mountain, 3952m, difíceis de subir!; Sun Moon Lake, lugar de fascinante tranquilidade e beleza; a floresta de WangYou, no centro da ilha, um mistério que parece saído de um livro de encantar; a Cascata de Shifen, conhecida como “Pequena Niagara”, o que explica bem a sua forma e espectacularidade, indo a água morrer numa piscina de esmeraldas; as Termas de Beitou, com uma lagoa sulfúrica de cor tão bonita e cheiro tão leve que mal se acredita estarmos perante um fenómeno desta natureza; LongDong (Dragon Cave), bom para quem gosta de fazer escalada ou mergulhar;o Geo Park de YehLiu, casa das formações rochosas mais estranhas que já vi, onde o calcário se transforma em formas frágeis de nomes bizarros como Kissing Rock ou Queen’s Head; a AliShan Mountain para ver o nascer do sol!; a Cascata de Xiao Wulai, uma espetacular cascata única de 50 mts; o fenomenal cenário dos penhascos de Qingshui; a encantadora floresta de bambu, cedros e ciprestes de Xitou, só comparável a algo imaginado.
Foto: Taroko Gorge
Foto: Shifen
Depois, há as ilhas, isto é as ilhas pequeninas que pertencem a Taiwan. Destas, aconselho a visitar as Pescadores (isso mesmo!) também chamadas Penghu, com a sua espectacular Caverna Azul; e as ilhas Matsu, com as suas fantásticas casinhas tradicionais. Para quem quer ver veados, morcegos, pássaros, camaleões, insectos e moluscos do tamanho da minha mão (sem exagero… a tropicalidade origina caracóis assustadores), o melhor é a Green Island, uma antiga colónia penal.
Foto: O fenómeno das algas azuis nas Ilhas Matsu
Tenho consciência de estar a deixar de fora muitas coisas (Taiwan tem 9 parques nacionais e várias “áreas cénicas”), mas é impossível referir tudo. É, realmente, um lugar onde a urbanidade e a natureza estão combinadas – cada um retira o que quiser.
Foto: XiTou
Foto: Águas termais de BeiTou
Foto: Geopark de YehLiu
É indispensável dizer que é muito fácil chegar a todo o sítio em Taiwan, nomeadamente em Taipei porque existe uma rede de transportes muito moderna. Na cidade, é comum usar o Metro. Os taiwaneses orgulham-se dele. Há regras muito específicas no uso do Metro e convém aprendê-las de imediato. Andar pela esquerda, parar à direita. Não comer, não beber (nem sequer água), não fumar, não mascar pastilhas ou seja o que for, não encostar a nenhuma porta, não passar das linhas, não sentar nos lugares destinados a pessoas necessitadas. As multas são pesadas mas, mesmo caso não haja multa, o olhar desaprovador do taiwanês não deixará de lhe dizer que a sua atitude não é “metro-friendly”. Embora Taiwan seja um local muito ruidoso, nos transportes o silêncio é apreciado. De facto, falar ao telefone em voz alta é considerado péssima educação (o ideal é usar mensagens escritas, à semelhança do conceito japonês). Convém também dizer que não apreciam o contacto físico, apesar das multidões: é de bom tom fazer de tudo para não tocar nas pessoas.
Foto: Formosa Blvd MRT Station
Quanto a cidade, falarei apenas da capital. Taipei é uma capital muito completa, uma “alpha city” tal como é designada pela economia mundial. As suas problemáticas com o lixo resultaram em vigorosas campanhas de reciclagem. Não se enganem os visitantes quando ouvirem a “Für Elise” sincopada como se fora uma caixinha de música… Não se trata de um carro de gelados, como pensam sempre os ingénuos. É mesmo o carro do lixo quem assim avisa a sua passagem! Embora Taipei seja declaradamente uma cidade do “Far East”, com os seus templos, stalls de comida, e a sua configuração quase inesgotável de becos e ruazinhas onde mesmo os nativos se perdem com frequência, é possível encontrar aqui traços ocidentais inegáveis: arranha-céus (de entre os quais o famoso Taipei 101, com 508 m está entre os mais altos do mundo), a paixão pela prática de desportos tradicionalmente americanos como o baseball; lojas de franchise ocidental, desde MacDonalds à Zara. Mas para uma experiência verdadeiramente local, nada como visitar um dos famosos e típicos “Night Markets”, que já tiveram a visita gastronómica de Anthony Bourdain. Explicar um night market é complexo… digamos que é uma mistura de feira onde se vende tudo, incluindo todas as possibilidades de comida. Como sempre em Taiwan, existem fotos da comida mesmo na barraca mais modesta, pelo que a selecção pode ser feita apontando para a foto desejada, caso só se fale inglês. O night market mais popular entre os estrangeiros é o de Shilin (pronuncia-se Zhelin), devido à sua localização conveniente, mas, pessoalmente, prefiro o de Raohe, mais tradicional e com mais artesanato.
Foto: Rahoe Night Market
O que comer? Quem não gosta de comida chinesa, encontra aqui de tudo, desde que tenha bolsa para tal. No entanto, para uma experiência tradicional taiwanesa há muito a experimentar. Para as crianças, nada melhor do que beber bubble tea (pearl milk tea) e saborear dumplings. As sobremesas tradicionais incluem pinneaple cake e uma parafernália de estranhos gelados, mas também se pode pedir apenas shaved ice, com invariável sabor a manga (uma herança claramente japonesa). Um adulto aventureiro tem muitos paladares, desde o mais clássico beef noodles ou pork rice ao mais ousado intestine vermicelli e stinky tofu (os nomes não mentem; é necessário conter alguns engulhos!) Há fruta classicamente asiática, com dezenas de dragon fruit, durian, wax apples, e outros (de notar que coloquei os nomes todos em inglês, claro).
Foto: Bubble Tea
Foto: Stinky Tofu
Em Taipei não faltam lugares para ser vistos, quanto a monumentos interessantes. Dos museus, destaco o National Palace, essencial para quem aprecia arte oriental, caligrafia e trabalhos em jade. Além disso, só o edifício em si é digno de visita. Quem tiver tempo, também pode visitar o National Taiwan Museum e ficará a saber da história local.
Foto: National Palace Museum
Para quem quer experienciar a vivência religiosa, que é muito forte em Taipei mas também muito aberta à pluralidade e até, de certa forma, a mais sincretista que já me foi dado ver, uma visita a um templo é indispensável. Dos milhares que há, o de Longshan é icónico, até pela sua sobrevivência à guerra. Do tradicional, dá-se um salto para o futurismo: indispensável ver a Torre de Tao Zu Yin Yuan, obra prima de arquitectura e ambiente.
Foto: Templo de LongShan
Foto: Torre de Tao Zu Yin Yuan
A maior parte dos monumentos são construídos em grande escala, fazendo-nos reflectir na nossa pequenez enquanto seres humanos e mesmo na pequenez das situações que nos afligem no grande contexto das coisas. Cito apenas alguns, que acredito serem imperdíveis. Chiang Kai-Shek Memorial Hall, uma estrutura de mármore e cimento com vários pavilhões e arcadas (aqui chamadas “gates”), com uma altura de 76 mts, construída em honra de um antigo general e presidente. A beleza e grandiosidade desta estrutura está carregada de simbolismos e detalhes. Em volta, há jardins que merecem uma visita. Bem perto, estão o Teatro Nacional e a Ópera, imperdíveis não só pela arquitectura (vale bem a pena ver como ficam iluminados à noite) mas também pelos programas – a técnica que dedicam à música faz com que existam virtuosos por cá desde tenra idade.
Foto: Chiang Kai-Shek Memorial Hall
Ainda dentro dos Memoriais, vale a pena ir a Sun Yat-Sen. Embora menos belo, fica-se com uma noção grande sobre a história e a mudança da guarda é um espectáculo de rigor que vale bem a pena observar. Quem não fica no Grand Hotel, deve pelo menos ir lá fazer uma refeição ou simplesmente observar esse grandioso edifício, representativo da estética do oriente e do seu colorido vermelho – sinal de alegria e de sorte. Saindo agora dos locais que qualquer guia de turismo pode revelar, deixo um pequeno segredo que não se encontra facilmente e que está na periferia (em Banqiao, New Taipei City): os impressionantes Lin Ben Yuan Family Mansion and Garden, uma jóia sobrevivente dos tradicionais jardins chineses. Trata-se de uma residência que data de 1847, com jardins de 20.000 m2, pertencente na época a uma abastada família chinesa. É impossível explicar a delicada beleza Ming do que resta da casa e a serenidade dos jardins, onde raramente se vêm turistas.
Foto: lobby do Grande Hotel, Taipei
Foto: Lin Family Mansion
Viajar com crianças para Taipei é agradável. Os taiwaneses apreciam crianças, e há dezenas de atracções feitas só para elas, desde parques de diversões (Children’s Amusement Park) ao Taipei Zoo, onde a maior atracção são os pachorrentos pandas, claro. No Zoo, há também a Gôndola Maokong, que atravessa uma cordilheira montanhosa. Quase todos os restaurantes têm um menu infantil. Em Taiwan, a taxa de natalidade é muito baixa, havendo uma sensação implícita que uma criança traz boa sorte. Como já perceberam, os taiwaneses são sensíveis a presságios.
Foto: Pandas, Taipei Zoo
Para quem gosta de experiências, Taiwan oferece vários desportos radicais ao longo da ilha, e outros mais tradicionais como seja a pesca de camarões à noite ou a experiência de aprender a fazer chá (ah sim, isto tem toda uma ciência!). Mas muito mais se pode fazer, e agora vou também desvendar algumas que não vem nos manuais de turismo. Observar um autêntico festival de pirilampos em Rueili (um must para quem quer pensar que está num filme da Disney, vendo voar mais de 2.000 espécies destes bichinhos entre Abril e Junho); Butterfly Beauty Festival (em Maolin, experiência semelhante com milhares de borboletas); simplesmente observar o maravilhoso espectáculo de arte e luz no Pingxi Lantern Art Festival no início do ano lunar em Taipei; Taiwan International Ballon Festival (em Taitung, para uma verdadeira experiência mágica e colorida de centenas de balões de ar quente onde até se celebram casamentos); Song Jiang Battle Parade (em Kaohshiung, para ver uma tradicional performance marcial); Jinshan Fire Fishing Festival (para observar a arte de pescar com fogo, algo em desuso, mas impressionante e de perder o fôlego). Não aconselho visitar Taiwan no mês de Agosto, não só porque o Verão tem um clima infernal, mas porque é o mês dos “fantasmas” e existem mesmo festivais dedicados ao efeito que são demasiado típicos para um desprevenido cultural.
Foto: Os pirilampos em Rueili
Foto: PingXi Lantern Festival
O lado desagradável de Taiwan são os possíveis desastres naturais. A sua localização coloca a ilha na rota dos tufões, sendo muito comuns no pico do Verão, trazendo uma chuva verdadeiramente monsónica – sem exagero, pode chover copiosamente durante dias. De resto, as falhas sísmicas também lhe causam sismos muito fortes e frequentes, com os quais toda a gente lida com muita tranquilidade e ordem. A isto, junta-se um clima quente e húmido.
Foto: International Hot Air Balloon Festival
Os taiwaneses não são conhecidos por ligarem à moda, pelo que qualquer roupa é aceite, sendo que o comum é as pessoas vestirem mais roupa do que o clima necessita. Tradicionalmente não apreciam muito piercings porque os associam a gangs e problemas com a lei. Por outro lado, um facto curioso é a pluralidade de “make overs”: há mil e uma lojas de perucas, de lentes de contacto de outra cor, de pestanas e sobrancelhas falsas, etc. Portanto, se quer mudar de rosto sem fazer uma plástica, bem vindo! Aqui, é perfeitamente possível.
Foto: Song Jian Battle Parade
Todos sabem que a situação política de Taiwan é complexa. Sendo um Estado que se auto denomina ROC (República da China) e proclama a sua independência, é reclamado pela China Continental como sendo sua província (Chinese Taipei), questão que não está internacionalmente resolvida. No entanto, para um viajante, basta-lhe saber que no local se utiliza a moeda NTD (New Taiwan Dollar) e que, para todos os efeitos, entrar em Taiwan não é o mesmo que entrar na China – embora a China esteja aqui ao lado e, de certa forma, em todo o lado, questão na qual não vou entrar agora. Raramente um taiwanês discute política com um estrangeiro, para evitar desagradáveis momentos.
Foto: Jin Shan Fire Fishing
Existe crime, como em todos os lugares do mundo. No entanto, de forma geral, Taiwan (nomeadamente Taipei) é bastante seguro. É comum as crianças andarem sós pela rua, bem como ver mulheres à noite sem acompanhantes. De forma geral, os taiwaneses não têm propensão para o assédio (aliás, nos transportes existem sinais a relembrar que é crime). Além disso, a sua personalidade reservada e o conceito herdado dos nipónicos de “never lose face” inibe-os de cometer crimes desonrosos que lhes tragam vergonha pública.
Foto: Pequena Cascata no Maolin Park
De resto, procuram ser o mais progressistas possível, embora seja uma sociedade claramente estratificada, hierarquizada e patriarcal. As mulheres, em regra, trabalham e algumas conseguem atingir posições de chefia (não tão fácil assim na Ásia… ou até em todo o mundo!); admitem o conceito de mãe solteira, embora isso não lhes seja agradável; são o único estado asiático que permite casamentos LGBTI. Tendo isto em conta, viajar para Taiwan não é o mesmo que viajar para outros locais onde, ostensivamente, se vêm casais de todos os tipos aos beijos em público. Os taiwaneses são reservados no afecto e nas demonstrações públicas; não obstante sejam muito tolerantes (até displicentes) na desculpa de comportamentos em estrangeiros que não tolerariam em cidadãos locais, não apreciam que ninguém seja declaradamente contrário à sua maneira de ser – regra que vale para tudo. Viajar para Taiwan significa encontrar um povo aberto ao estrangeiro, mas que espera dele muito respeito a Taiwan (aliás, com razão).
Foto: Penhascos de QingShui
Importantes conselhos aos viajantes sobre certos mitos e tabus dos taiwaneses, a respeitar: não falar sobre a morte ou os mortos; não chamar fantasmas (eles acreditam que existem espíritos que nos assombram); evitar o número 4 (porque a sua sonoridade fonética é semelhante à da palavra “morte”, arrastando má sorte); não cruzar os pauzinhos com que se come, porque isso lembra incenso; não oferecer relógios, tesouras ou facas a ninguém para “não lhe cortar o tempo”; não oferecer flores brancas; evitar ainda certos presentes referentes a separações (exemplo: frutas cortadas), já que acreditam que quando duas pessoas se separam por corte intencional raramente se voltarão a encontrar. Por outro lado, tudo o que apontar para o número 8 é bom: símbolo de eternidade e abundância. Os presentes são abertos em privado e não em frente de quem os ofereceu, por respeito e contenção emotiva.
Foto: National Concert Hall
Eis aqui um cheirinho de Taipei e de Taiwan, um local que não agrada a todos, declaradamente, mas ao qual ninguém fica indiferente. Ou se gosta ou se detesta, raramente havendo meio termo na emoção. Como costumam dizer amigos que me visitam, é, sem dúvida, “como chegar a outro mundo.” Depois de chegar, talvez seja como o tal anúncio que Pessoa fez para a Coca-Cola, recordam-se? “Primeiro estranha-se… depois entranha-se.”
Foto: Taipei 101
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