Li numa notícia de jornal que uma
jovem numa escola secundária de Campo Maior foi agredida dentro de uma sala de
aula por um colega. Em consequência dos pontapés no rosto que sofreu, a jovem
partiu o nariz e ficou com ferimentos num dos olhos. O agressor tem 16 anos e,
à laia de punição, fica suspenso por 12 dias, o que implicará chumbar o ano. A
escola garante que, apesar da jovem agredida ser vítima de bullying desde o
início do ano, trata-se de um caso isolado no cômputo da escola em questão.
Acaba aqui a notícia, começam as
minhas questões.
Todos sabemos que há escolas
problemáticas; alguns de nós também as frequentaram. A única figura que pode
impedir ou, em caso extremo, que pode parar uma cena de pancadaria dentro de
uma sala de aula sempre foi e será o professor. Bem sei que, chegados aos 16
anos, não faltam casos em que o aluno é fisicamente mais forte do que o
professor/a professora - aliás, não defendo o uso da força nas escolas em
nenhuma situação. É importante que desde o primeiro dia se crie um sentimento
de autoridade. O professor (vou usar este género por uma questão de economia
linguística) não está ao mesmo nível dos alunos, não é um amigão, embora seja
amigo - o que é diferente. Sobretudo nas idades formativas, é importante sentir
a autoridade dos professores: sabem mais, têm maior experiência de vida,
orientam, guiam. Os miúdos esperam, intimamente, essa postura, e notam de
imediato se o professor se interessa por eles e se dedica “a ser mestre” ou
não. Muitos miúdos não têm outra figura de proa. Se o professor se demite da
sua autoridade, ficam sem referências.
Por autoridade, não me refiro a
um domínio baseado no jugo e no medo. Isso, infelizmente, já muitos conhecem e
é isso que eles próprios exercem sobre outros nessa forma que agora se conhece
por bullying e que não é mais que o espelho do que outro alguém sobre eles
mantem. Reconheço que existe alguma dificuldade em manter firmeza e ascendência
sobre miúdos difíceis, sem usar de impetuosidade, mas já o vi brilhantemente
executado durante anos, sem sequer ser rude.
Em resumo: não concebo esta
filosofia que hoje vejo pulular que demite o professor da sua responsabilidade,
porque parece recear os alunos. Sempre existiram miúdos conflituosos, não é
novidade e nem a adolescência de hoje é mais violenta do que foi a minha. Mas é
mais mediática. O professor pode e deve fazer algo desde o primeiro dia de
aulas, com a sua atitude, exemplo e intervenção. Se sente que não está à
vontade (ou até que não quer ou não consegue ser professor…), todos ali têm um
problema.
Outra questão decorrente desta é
ser-se furiosamente pontapeado no rosto dentro da sala de aula e isto ser um
incidente isolado. Não posso pronunciar-me sobre a escola em questão. No
entanto, é curiosa a quantidade de “incidentes isolados” deste calibre que
acontecem no país – basta fazerem uma busca na internet e verificam que só
neste ano escolar já foram vários. Também não é credível que a primeira
agressão de alguém a outro seja um pontapé no rosto, agressão que por si só já
exibe um carácter de ataque muito violento e que pressupõe violências físicas
menores anteriormente executadas.
Isto, infelizmente, recorda-me um
caso que conheço bem em que certa personagem confessou perante a Lei pontapear
X, mas era esta a única ofensa que lhe fazia (socos não, empurrões não, apenas
a pontapeava com violência quando ela já estava no chão… é verosímil? falta
explicar como chegou o rosto de X ao chão!)
A terminar, questiono o porquê de
um jovem de 16 anos que parte o nariz a alguém não ser imputável perante a Lei.
Aos 16 anos, pode-se casar, pode-se guiar uma mota, pode ir-se preso por
cometer homicídio ou um crime que a Lei entenda ser de gravidade, mas não se
responde sequer à Justiça por partir o nariz a alguém perante uma sala cheia de
testemunhas. Não. Fica-se sem escola durante 12 dias (quiçá uma bênção!) e
depois retorna-se à vida normal.
Crianças tão jovens como 3 e 4
anos são ouvidas em Tribunal em Portugal, caso tenham sido vítimas de crimes ou
presenciado os mesmos. Os interrogatórios são ridículos, feitos como se
estivessem a ouvir criminosos adultos, com direito a intimidação e
contra-interrogatório. Mas um tipo de 16 anos, que – para todos os efeitos – cometeu
uma violência gratuita, tem 12 dias de férias. Portugal seria cómico se não
fosse trágico. É um país bom… para férias.