“Um dos mais altos expoentes da poesia universal, que viverão enquanto viva for a memória das gentes” segundo Unamuno; “livro único entre nós, um dos mais belos que po[de] escrever um poeta, por igual rodeado de lucidez crítica e de imaginação metafísica”, disse José Régio; “o mais alto, luminoso cume a que subiu a poesia no nosso país” observou António Sérgio; enfim, segundo o próprio Antero, “a verdadeira poesia do futuro, fora das tendências da literatura sua contemporânea”.
Os Sonetos de Antero são a junção da sua complexa filosofia (à qual a sua verve literária sempre foi constante) e do seu espiritualismo (do qual jamais se separou).
A causa reformista de Antero, a sua reflexão aguda tanto do material como do sentimento são todas condensadas em algo absolutamente único. Lendo os Sonetos, tão depressa estamos “na vida agitada e dolorosa [como] na paz do Senhor”.
Antero, “o génio que era um santo”, tinha como herança o facto de pertencer a uma das mais antigas famílias micaelenses, com raízes nas lutas liberais. Em Lisboa, para onde partiu “para estudar” com a tenra idade de 10 anos, tornou-se num porta-voz estudantil, autor de manifestos vários contra o forte conservadorismo social, político e intelectual que vigorava na época. As suas Odes Modernas originaram a maior polémica literária de sempre em Portugal: a célebre “Questão Coimbrã” entre os revolucionários humanistas e os ultra-românticos. Diz-se hoje que a sua doença mental (aparentemente não impeditiva da genialidade e do seu proverbial bom coração) era um distúrbio bipolar, pois que ele oscilava entre o pessimismo profundo e a exaltação.
Antero é o símbolo da inconformada e brilhante Geração de 70; infelizmente, a sua morte por suicídio junto ao Convento ironicamente denominado “da Esperança” é bem a expressão dessa mesma geração que a si mesma se considerou “vencida da vida”.