... "And now for something completely different" Monty Python

Sunday, November 27, 2011

Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago


Deste livro disse o autor ser um romance terrível que sofrera muito a escrever: “é brutal, violento e foi uma das experiências mais dolorosas da minha vida”. Saramago descreveu-o como uma constante aflição e tortura, onde “se mostra que não somos bons e é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso.” 

A obra é uma parábola onde todos vão sendo acometidos por uma treva branca que os deixa cegos, embora, como alguns reconheçam “cegos já éramos antes de cegar”. Todos, menos a mulher do oftalmologista, que finge ser cega para acompanhar o marido na reclusão a que, a princípio, votam os cegos quando ainda são minoritários na comunidade. É por ela que nos damos conta do feroz mundo de luta humana, onde o egoísmo é uma constante, exarcebado aqui pela ausência de restrições que - tristemente nos damos conta - não serem uma obrigação da ética íntima de cada ser mas apenas e só uma questão de receio de punição social que se torna inexistente dada a cegueira. Assim, sucedem-se os casos animalescos de brutalidade, de luta pela comida, de desprezo total pelo asseio, e, finalmente, de invasão da liberdade alheia e de descaso pela dor de outrem como são as violações e os homicídios.

Para retirar ainda mais da humanidade das personagens, nenhuma delas tem nome, sendo apenas referida por uma característica acessória, e.g.: a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, o ladrão, o rapazinho estrábico.

Saramago ganhou o Nobel em 1998, três anos depois da publicação deste romance, pela sua “imaginação, compaixão e ironia, que continuamente nos permitem apreender uma realidade indefinível.”