... "And now for something completely different" Monty Python

Monday, May 30, 2011

Literacia

Muito se tem escutado sobre estarmos perante uma das gerações mais qualificadas de sempre em Portugal. Eu própria exprimi a minha indignação sobre alguns pertencentes à minha geração - perfil lato sensu: 30 e poucos, grau académico de Mestrado ou Doutoramento, experiência profissional interessante e, nalguns casos, internacional – terem muita dificuldade para arranjar trabalho e, quando o têm, não raro serem penalizados por colegas ou chefes que, apesar de estarem em melhores condições de emprego, têm profundos sentimentos de insegurança.


No entanto, gostava hoje de explorar aqui outra face da moeda do momento actual. A ideia de termos uma geração ou, mais largamente, um país muito qualificado é uma generalização extremamente perigosa e conduz a uma falácia. De facto, quanto mais avançamos no Mundo Moderno, mais existe fragmentação a todos os níveis e, portanto, encontrar denominadores comuns a nível geracional começa a ser mais complicado do que era.

O facto é que, na minha geração e também nas outras que com a minha partilham hoje a vivência em Portugal, existe muita gente com graus académicos. Mas não é linear que todas essas pessoas tenham capacidade de investigação, comunicação, e até de pensamento autónomo e possuam um determinado nível de literacia.

Reparem que disse “capacidade” e não outra palavra. Evidentemente, ninguém espera que um grau académico forneça tudo – espera-se que dê ferramentas para que aquele que o obteve vá mais longe no seu próprio trilho de experiências, pois, essas sim, poderão ensinar-lhe infinitamente mais. Este desenvolvimento cabe a cada qual fazer, e assim deve ser. Se há dúvidas, basta pensar nos médicos – quando se sai de um curso de Medicina, sabem-se os princípios, mas é o dia a dia como médico que vai forjar o profissional.

No entanto, o que aqui está em causa é outra coisa: só deviam completar os graus, quaisquer que eles fossem, os que tivessem capacidade para tal. Cada vez menos, isto se verifica. Um “canudo”, nos dias que correm, não é garantia de trabalho… mas também não é garantia de um indivíduo preparado para tal.

Os professores são muito pressionados para darem melhores notas aos alunos, que devem “passar” a todo o custo. Não vou aqui dissecar os argumentos. Os poucos que me lêem já sabem que não concordo com nenhuma medida que tenha por fim premiar a mediocridade tal como não concordo com medidas que procurem rebaixar o êxito – pois o que se faz ao elevar quem não sabe é simultaneamente inflacionar aquele que sabe “mais ou menos” e até o que sabe um pouco mais, que acaba por ter 20 (dar nota máxima tornou-se hoje tão comum que dir-se-ia estarmos perante um “boom” de génios); ora, que nota se pode dar, então, ao aluno brilhante? Ficou, simplesmente, sem lugar na pauta existente e obrigado a ter a mesma nota que os intelectualmente menos dotados, isto é, o mesmo 20!

Quantos de nós já ouviram dizer que “x é sobredotado”? A palavra “sobredotado” está, hoje, tão vulgarizada e mal aplicada que, certamente, daqui a alguns anos, haverá um número relativamente simbólico de gente “sobredotada” no desemprego. Pior: serão pessoas muitíssimo amargas, pois tinham altas expectativas da vida.

Não quero de modo algum aqui subvalorizar as queixas válidas dos alunos – sim, é verdade: temos muitos professores incompetentes e mal formados dos pontos de vista académico e pedagógico, não se compreendendo, portanto, como se pode dizer “que ensinam”; lícito será antes dizer que “o seu emprego é serem professores”. Estes professores, do ensino primário ao universitário, perpetuam pela sua própria acção e (des)conhecimento, um ciclo que temos dificuldade em quebrar.

Escrevi isto a propósito de uma notícia do Expresso – “Melhor aluno do país entrou na faculdade sem terminar o liceu”. O Tomás desistiu da escola; mas agora com as “Novas Oportunidades” terminou-a em poucos meses e entrou na Universidade com uma média de 20 valores (valor de apenas um exame que fez) e é, deste modo, o aluno com a nota mais alta de candidatura ao ensino superior. Peço desculpa ao Tomás pela referência mas as circunstâncias tornaram-no num exemplo a calhar.

Com o sistema pós-Bolonha, em 4 anos alguém com este percurso será Mestre. Um pouco mais de ousadia e poderá decidir encomendar uma tese de Doutoramento a alguém que as escreva por dinheiro - coisa que está na moda nestes tempos de crise e há quem faça, sim! - e temos um Doutor. Assim é natural que, em Portugal, haja um grande salto na qualificação da população…

Saturday, May 28, 2011

Entrevista a Genuíno Madruga, autor de "O Mundo que Eu Vi"



“O Mundo que eu vi” da autoria do navegador Genuíno Madruga foi lançado a 20 de Maio num porto mítico para a navegação oceânica: o Peter Café Sport. Trata-se de um livro que resulta da evocação da sua primeira volta ao mundo iniciada em 2000, mas sobretudo do relato da segunda volta começada em 2007, viagens estas feitas a bordo de um veleiro, talvez profeticamente baptizado “Hemingway”. Obra essencialmente descritiva – para o que muito contribuem as dezenas de fotografias – de um homem pragmático, que aqui regista pormenores de navegação e de percurso, narra histórias de encontros e de vidas, comenta um mundo revelador que o surpreende e se surpreende com ele como acontece em todas as situações em que interagem diferentes culturas. Conjunto de memórias e de experiências de um périplo marítimo, este livro insere-se na chamada Literatura de Viagens, para a qual os portugueses tanto contribuíram desde os tempos idos das Descobertas. 


 Carla Cook – O que o levou a querer escrever “O Mundo que eu vi”? A necessidade de fazer um diário de viagem que ficasse para a posteridade ou a vontade de partilhar um pouco do que viveu com quem não pode partir à aventura?

Genuíno Madruga – Este é um projecto que já tem muitos anos. A primeira parte do livro foi escrita ainda à mão e nem pensava em computadores. Escrevia sobre coisas que vivia na pesca, sobre sítios que fui vendo, pessoas que fui conhecendo na época. Estamos a falar dos idos anos 60. Depois, surgiram as duas viagens. E também escrevi para dar resposta às muitas pessoas que me perguntavam “Então, Genuíno, e quando é que fazes um livro?”. Todas estas coisas somadas acabaram por resultar neste livro.

C.C. – A primeira parte do livro é a sua história, tem detalhes da vida do Genuíno, da sua família e do seu sonho. Até nesse sentido, é um livro pessoal e íntimo. Não sentiu receio de se expor demasiado? Afinal, um navegador solitário é, por definição, um homem recatado e ensimesmado.

G.M. – Não, não creio que se dê esse caso. Muitas das coisas que escrevi não são coisas assim tão pessoais quanto isso. Não escrevi nada que não possa ser do conhecimento geral. Haverá outros aspectos que não constam ali… Talvez um dia, pense em escrevê-los, mas para já não. Não sou escritor. O fundamental deste livro parece-me minimamente conseguido:  quis deixar um registo das coisas que vi, desde os primeiros tempos em que construí o meu primeiro barco. Este livro é isso mesmo.

C.C. – Há muitos mitos acerca de navegar em solitário. Diz-se que há momentos em que o deserto do mar pode ser difícil. Nessas alturas, um livro ajuda?

G.M. – No meu caso pessoal, posso dizer que, nessas alturas, as companhias que tive foram os livros que tinha a bordo, alguns que fui também adquirindo pelo caminho e outros de amigos, e as minhas músicas… Excepto alguma ave que, de vez em quando, procurasse o Hemingway. De resto, não havia mais nada. O mar, o céu, as estrelas de noite e o sol durante o dia, que, por vezes, escalda imenso… Mais nada. É preciso ter as ideias bem arrumadas para navegar sozinho!

C.C. – Aproveito para perguntar: um homem do mar que escreve um livro de viagens pretende alcançar que tipo de público – outros homens do mar, todo o tipo de gente com sede de aventura, pessoas interessadas em culturas diferentes… Que expectativas tem em termos de leitores?

G.M. – Creio que o livro, escrito por mim que não sou expert nas Letras, é acessível a qualquer um. Não é especialmente dirigido a ninguém. Embora me pareça, e não vejo nisso mal, que muitos dos meus companheiros do mar e da pesca possam efectivamente ter interesse nele e entender muito do que ali escrevi.

C.C. – Há partes muito curiosas no livro. Notei que encontrou açorianos em muitos dos sítios por onde passou. Aliás, a aventura da viagem começa exactamente pelo encontro de um faialense que mora em Cabo Verde. Corrobora a frase “os açorianos estão por todo o lado”?

G.M. – Sim, é mais ou menos verdade! É bom ter em conta que já Joshua Slocum na sua viagem em solitário à volta do mundo em meados do século XIX, passa pela Terra do Fogo e já relata aí um encontro com um açoriano. Passa também pelas Ilhas de Robinson Crusoé no Pacífico e relata um encontro que teve com um açoriano da Ilha de São Miguel, um tal Manuel Carroça que vivia naquela ilha com uma brasileira que tinha para lá levado do Rio de Janeiro. Estamos em 1880, mais ou menos. Esse açoriano era conhecido por “Rei” porque era o único naquelas ilhas que falava inglês. Ou seja, era um indivíduo que saíra dos Açores na altura da emigração baleeira e acabou por chegar àquela ilha perdida no Pacífico.
Na minha viagem, não tive qualquer oportunidade de ir a esta ilha, embora tivesse muita vontade. Passei sempre lá de noite… Aquilo é uma base chilena, portanto não somos autorizados a entrar nem a sair de noite.
Mas encontrei vários. Por exemplo, a família Silva e a família Pereira que vivem na Samoa Ocidental. Da parte da família Silva, soube pelo padre Silva, que o bisavô tinha vindo “das ilhas e que tinha andado numa baleeira”. À partida, seria oriundo daqui dos Açores.
Na África do Sul, tive o prazer de um dia, à tarde, ser visitado pelas duas únicas açorianas que lá vivem: Maria de São João, da Ilha de São Jorge, e Maria Romana, da Ilha Terceira.
Isto são exemplos. Como se sabe, antes da emigração para a América do Norte que começou com a baleação, houve um grande fluxo de emigração açoriana para o Brasil. No Brasil, ainda se podem ver muitos vestígios açorianos. Quando estive no município de Alcântara, no Estado do Maranhão, encontrei um doce chamado “espécies”!... Das duas uma: ou as nossas “espécies” vieram de lá… ou fomos nós que levámos para lá as “espécies”. Portanto, há também muitas marcas açorianas importantes por esse mundo fora.

C.C. – Há momentos em que encontra pessoas que já encontrara aquando da sua primeira viagem. Nota-se que essas experiências de reencontro, algumas com pessoas muito humildes, tiveram uma forte importância humana para si pelo destaque que lhes dá nesta sua obra.

G.M – Obviamente. Por exemplo, refiro um caso que envolve pescadores. A primeira vez que cheguei à Ilha de Rodriguez, cheguei sem mastro devido a ter passado por uma tempestade violenta no Índico. Tive a ajuda de pescadores locais e apanhámos um bambu para improvisar um mastro que me permitisse fazer mais mil e tal milhas. Pescadores e suas mulheres arranjaram velas, limparam, enfim… Trataram das coisas. Quando agora passei pela segunda vez na Ilha de Rodriguez, um deles – o Manuel – assim que soube que eu tinha chegado, veio logo trazer-me de prenda um grande saco de tomates.
Tive muitos momentos marcantes a nível humano nesta viagem… Uma família com quem criei um relacionamento mais próximo nas Ilhas Fiji, gente da África do Sul, outros das Marquesas,… de todo o lado. Também, na primeira viagem, fiz uma palestra para uma escola; na segunda, encontrei alguns dos miúdos e isso foi importante.

C.C. – Pessoalmente, creio que alguns dos momentos mais interessantes do livro estão no que poderíamos designar por “choque de culturas”. Recordo, por exemplo, a aguardente do Pico que deu a provar nas Ilhas Fiji e que tanta confusão causou. No fim de tudo isto, que lhe parece: as diferenças culturais deste mundo são inultrapassáveis?

G.M. – Não, não, cuidado! Todos falamos a mesma língua. Por exemplo, no mar. Quer se trate dos que andam em barcos altamente sofisticados quer se trate dos que andam nas canoas da Polinésia, todos os que andam no mar falam a mesma língua, apesar de falarem diferentes idiomas. Há coisas que todos entendem sem ser necessária muita explicação.
Claro que, nos dias que correm, põem-se situações muito complicadas às pessoas: cada vez há menos peixe - nos Açores e em todo o mundo -, cada vez há maiores dificuldades, cada vez há um maior fosso entre os maiores e os mais pequenos … É uma situação que vai explodir um dia destes, quando as pessoas estiverem demasiado encostadas à parede.


C.C. – O que foi mais difícil: dobrar o Cabo Horn… ou escrever este livro?

G.M. – Ah, são coisas completamente diferentes. Mas se navegar o Hemingway e passar o Cabo Horn, conseguir sair dali para fora, saber do vento, da neblina, do mau tempo, foi difícil… escrever o livro também teve situações complicadíssimas. Teve gritos e situações de vária ordem, até porque eu não estava habituado a escrever. Para além disso, houve vezes em que eu queria escrever uma coisa e a Beatriz entendia que ficava melhor outra. Mas o que importa, no fim de tudo, é que, com bom ou mau tempo, o Cabo Horn passou-se e o livro também se escreveu!

C.C. – Gostaria de transmitir mais alguma coisa acerca deste livro ou de outros projectos futuros?

G.M. – Há sempre projectos; o problema é haver meios para os concretizar.
O livro aí está – as pessoas agora podem ver muito daquilo que passei e, no fundo também, daquilo que sou. Outros tê-lo-iam escrito de outra forma; mas eu fiz uma coisa simples.
A primeira parte trata da minha vida mas não só. Trata também da vida e da faina da pesca naquela época, nos anos 60. Por muito difícil que a vida no mar hoje seja (e é evidente que é e que muitas coisas têm mesmo de tomar outro rumo), essa vida não tem comparação com aquilo que era nesses tempos. Os próprios pescadores não têm nada a ver com aquilo que eram nessa altura. Naquele tempo, a maior parte dos pescadores eram analfabetos. Ser um pescador ou um homem do mar não era um desejo de muita gente; os pais não queriam isso para os filhos. Eu tive muitas dificuldades para andar no mar, porque isso era considerado uma desonra para a família e uma condenação à miséria, talvez até à fome. Isto que acontecia naquela altura não tem rigorosamente nada a ver com o que é a pesca hoje em dia. Há dificuldades, sim. Mas temos outras condições e formas de ultrapassar as coisas más.
Considero que a pesca e, acima de tudo, o mar são muito importantes para a economia e para o desenvolvimento destas ilhas. Vivemos numa situação de privilégio: dum lado, a Europa, do outro, as Américas do Norte e do Sul – isto não está a ser devidamente explorado. Temos uma água limpa. É certo que temos maus invernos, mas os verões são bons. E temos paz e segurança numa área enorme de mar que tem de ser tratada pelos açorianos e não por gente de fora. Se os açorianos não o fizerem, vão vir pessoas que o farão…


Friday, May 27, 2011

Pedras Negras de Dias de Melo

Pedras Negras, assumidamente parte de uma trilogia que inclui também os romances Mar Rubro e Mar p’la Proa, é o livro mais emblemático de Dias de Melo, estando traduzido para inglês e japonês. Publicado em 1964, o romance é bem o retrato de um mundo pequenino de janelas abertas para o mar, cuja história salgada e escura é surpreendentemente elevada ao universal pelos seus contornos trágicos. A baleação e todo o seu aparato dramático ocupam lugar central. O protagonista é Francisco Marroco, cujas dificuldades são grandes em encaixar-se naquele mundo(inho) pesado, injusto, ganancioso e mesquinho, dividido ao meio para poderosos e trabalhadores, com pesos diferentes para ambos. Também aqui se aborda a sempre eterna porque sempre actual problemática da emigração do ilhéu que vê a América como uma namorada caprichosa, que ora lhe dá carinho ora lhe mostra as unhas. Depois, os retornos a casa, os ajustes de contas, as vítimas que passam a algozes, as rebeldias que têm de ser castigadas numa realidade que não suporta e inveja novidades. O tempo como senhor dominante, fazendo e desfazendo, em ciclos que não se quebram.


O “homem do cachimbo” nasceu na Calheta do Nesquim da Ilha do Pico em 1925, morrendo em S. Miguel – na cidade onde viveu grande parte da sua vida - em 2008.  Professor em Ponta Delgada, exerceu a profissão também em Lisboa, para onde foi obrigado a “exilar-se” aquando da perseguição que lhe foi feita antes do 25 de Abril. Nessa sua estadia, colaborou assiduamente com o Diário de Notícias. Foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Mário Soares. É unanimemente considerado o escritor da faina baleeira, motivo maior das suas obras numa carreira literária de meio século.



Thursday, May 19, 2011

Os Silos do Silêncio de Eduíno de Jesus

Esta antologia pessoal reúne as poesias mais emblemáticas do autor de 1948 a 2004 – meio século de poesia que passeou por tão diferentes caminhos e temáticas que julgamos, por vezes, estar perante diferentes autores. Por isto mesmo, é difícil etiquetar a obra. Na busca de contextualizações, notam-se influências maiores como a do concretismo e a do simbolismo, com alguns traços românticos. Mais fácil é dizer que o autor segue o caminho multifacetado e caleidoscópico da Modernidade.


Redutor também é falar-se de uma obra tematicamente centrífuga, numa poesia que tanto explora, e com o mesmo à vontade na pena e no sentir, a metafísica como o quotidiano nas suas múltiplas vertentes e, entre estes dois pólos, as artes.

Obra não completa de um autor que continua a surpreender, mas, seguramente, condensado mimo poético coligido pelo próprio e com direito a Inéditos. A perspicácia do leitor exige-se.





Eduíno de Jesus nasceu em S. Miguel em 1928. Foi docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, mais tarde (entre 1979 e 2000), regente da cadeira de Teoria de Literatura na Universidade Nova da mesma cidade. Foi um dos directores da Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura da Verbo e ainda colaborador da Enciclopédia de Leitura Biblos e do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses. Embora a sua obra seja mais profícua e conhecida no campo poético, não se limita a este, tendo igualmente publicado artigos, crónicas, contos e drama. Polímata activo, escreve continuamente sobre vários assuntos. É conhecida a sua actividade dinâmica enquanto Presidente da Casa dos Açores em Lisboa entre 2003 e 2009, que lhe valeu o merecido epíteto em livro publicado pelo IAC de “Eduíno de Jesus - A Ca(u)sa dos Açores em Lisboa”.

Monday, May 16, 2011

O Futuro das Humanidades


A revista da Faculdade de Letras da UL publica este mês uma entrevista absolutamente vital feita a George Steiner, um dos raríssimos Homo Universalis de hoje. Poliglota desde a infância, estudioso de diversas áreas do saber humanista e das suas relações, Steiner re-definiu conceitos e perspectivas. Embora a Academia o tenha premiado e o seu currículo docente inclua todas as universidades de topo actuais, Steiner não é considerado um indivíduo pacífico; aliás, a sua tese de doutoramento começou por ser rejeitada em Oxford e os seus colegas de Cambridge demoraram muito a aceitar a sua crítica inflamada e personalidade pouco formatada, de quem já passara pela Guerra e se recusava a esquecê-la. Não só mas também por estas razões, vale a pena ler o que pensa o Mestre do papel da Universidade actual na Europa de hoje e das Humanidades que temos.


Algumas ideias são passíveis de chocar os mais conservadores. Steiner defende uma mudança profunda nas Universidades, dado que o modelo actual está “moribundo” e não serve nem investigadores nem alunos. Os primeiros deixaram de ser encarados com seriedade e alguns são péssimos professores; os segundos estão impacientes e zangados porque não têm esperanças socioeconómicas. A isto soma-se a preguiça e passividade actuais, o medo de outras realidades, a propagação da miséria intelectual de uma geração para outra e o entediamento que provém das facilidades trazidas pela cultura do luxo. O tédio, segundo Steiner, é um dos maiores perigos das civilizações e, conjugado com outros factores, já foi predecessor de grandes guerras.


A época actual traz perigos concretos para as Humanidades: as línguas vêem-se ameaçadas por uma espécie de “esperanto electrónico” que as substitui, a literatura perdeu terreno e ninguém hoje venera os homens de artes e letras, como se fazia na Itália Quatrocentista – hoje, existe o culto da Ciência Física, Química e Biogenética. Pessoalmente, creio que o Homem faz uma caminhada à procura de vias de salvação e da mesma forma que antes deixou a religião para se dedicar a si e à sua capacidade artística, agora deixou essa faceta para acreditar no poderio da ciência… Steiner é um pouco mais realista: crê que o Homem de hoje tem como únicos deuses o futebol, porque nada congrega tantas pessoas determinadas e apaixonadas frente a um mesmo objectivo.


Steiner acredita na coligação de Universidades e na mobilidade de docentes e alunos ao invés da tão popular reduplicação de cursos pelos países fora que hoje se verificam e que conduzem ao inevitável resultado de salas quase vazias e do maior fosso entre ensino e posterior postos de trabalho, já para não falar na extinção de cátedras devido à falta de alunos. Defende também a aceitação de algumas realidades perante a época que vivemos: certas línguas perderam terreno e, perante este facto, temos de começar a apostar no ensino de outras cuja ascensão no mundo de hoje começa a ser por demais evidente; o entendimento de que o modelo da Universidade americana não serve a Europa, porque se radica no sentir peculiar americano, em muitas coisas oposto ao sentimento de um continente elitista e abatido por uma História conflituosa; a percepção de que os currículos têm de ser revistos perante as grandes mudanças estruturais do mundo actual (dando como exemplo a revisão dos currículos científicos nos EUA aquando do aparecimento do Sputnik); a apreensão de que existem alunos mais dotados de que os mestres e que a irreverência intelectual dos alunos dotados é um factor de progresso científico a ser estimulado; a realização de que as Humanidades têm de estar entusiastas mas muito modestas, pois “não se portaram assim tão bem” – não tornaram o clima político melhor, não deram aos jovens o que eles necessitam e gastam milhões de euros em monografias especializadas sem utilidade, isto é, que não servem ao progresso espiritual das pessoas nem ao progresso do mundo.


Então, para quê ler? Curiosamente, Steiner confessa que ler hoje é difícil. Para ler, é necessário silêncio e vivemos num mundo de ruído constante; é necessária privacidade, e as pessoas são compelidas pela sociedade a partilhar todas as suas experiências em redes sociais e já não guardam intimidade do que vivem; é necessário saber com o coração (de cor) e já não há tempo para esse luxo indispensável que é a poesia.


Apesar de tudo isto, e paradoxalmente, o Mestre tem esperança no futuro. Porque das grandes crises nascem grandes momentos – as pessoas pensam mais, absorvem mais. Além disso, como todos os judeus, Steiner acredita que não se pode ter medo do futuro. Ter medo do futuro é o suicídio da mente.

Friday, May 6, 2011

Errare humanum est



N.B: preâmbulo para entender as "regras do jogo" desta miscelânea de autores e de vivências que passam pelo Suma Irracional : a cada quinzena, é dada uma palavra e cada "autor" escreve (ou pinta) algo sobre a palavra dada. A palavra da vez foi "ERRO", segundo a qual escrevi o textinho que se segue.



Os matemáticos distinguem entre “o erro absoluto” e “o erro relativo”. São noções de cálculo numérico, mas, se considerarmos apenas as expressões per si ficamos com a clara sensação de que também é possível fazer o mesmo tipo de erros no percurso da nossa vida: relativos versus absolutos. Deve ter sido a pensar nisso que os anglo-saxónicos inventaram a expressão “move on!” e que os falantes do castelhano dizem “adelante mora gente!” para enfatizar que temos de seguir sempre, mesmo após um erro colossal.


Em 1994, o brilhante neurocientista português António Damásio escreveu O Erro de Descartes onde defendia que a separação entre a racionalidade e as emoções é um mito. Ou seja, e dito de forma bastante leiga e sumária, é inútil tentar dividir duas coisas que provêm do mesmo indivíduo, pois as nossas respostas emocionais dependem, em grande parte, de processos cerebrais e vice-versa. Assim, o erro cartesiano – que muito influenciou correntes filosófico-científicas – seria pensar que é possível a existência de uma razão pura como independente do corpo e das emoções. Portanto, as pesquisas que pretendem compreender os homens de um ponto de vista puramente biológico, simulando processos da biologia humana em computadores com alta inteligência artificial, falham… porque os computadores não são passíveis de modificações mentais perante um estado corporal emotivo. Quer isso dizer que, afinal, são as emoções que determinam os nossos comportamentos?


Damásio introduz uma hipótese – a dos marcadores somáticos - que, muito sucintamente, propõe que o processo das emoções guia o comportamento, nomeadamente a tomada de decisões. Os marcadores somáticos seriam associações entre estímulos de recompensa que, naturalmente, levam a um afecto correspondente, incluindo a sua repercussão fisiológica. Isto quer dizer que o ser humano armazena informações relativamente às suas experiências emotivas passadas e que isso o ajudará a fazer escolhas mais rápidas e acertadas no futuro, como veremos.
Em conclusão: as emoções ajudam e equilibram a tomada de decisões, sendo parte integrante do processo mais racional.


O que acontece, então, a alguém que se lesionou cerebralmente com gravidade? Damásio expõe alguns casos famosos, como o de Phineas Gage, americano que em 1848 sofreu um acidente, tendo a parte frontal do seu cérebro sido trespassada por uma barra de ferro. Surpreendentemente, Gage apenas perdeu a visão de um dos olhos, quando a expectativa seria de não sobrevivência. No entanto, Gage queixava-se de um “sentimento geral estranho” após o acidente. O que nele mudou não foram as suas funções cognitivas mas sim a sua personalidade: o trauma cerebral tornou-o imprevísivel, alterado e com dificuldade em tomar decisões. O anteriormente responsável e maturo Gage tornou-se caprichoso, infantil, obstinado nas suas vacilações que depressa mudavam de rumo, transformando-se, nas palavras dos que com ele privavam, “uma criança com as paixões animais de um adulto”.


Os estudos feitos em pacientes com lesões no córtex frontal corroboraram a teoria de que indivíduos com personalidades ditas “normais” antes desses traumas apresentavam depois comportamentos bastante peculiares em relação à norma, nomeadamente inabilidades de planeamento, dificuldades de decisão, personalidades volúveis e não raro um défice no controlo da agressividade. Para além disso, a sensibilidade destes pacientes mostrava-se completamente alterada, sendo que alguns revelavam uma grande imunidade às emoções e um enorme tédio perante quaisquer excitações a muito breve prazo (daí a constante procura de novas coisas). Passemos por cima da infelicidade que deve ser viver assim e concentremo-nos no que significa ser-se imune a emoções. No fundo, é um eufemismo para psicopata. É este o tipo de pessoa que inflinge dor a outrem sem sentir qualquer tipo de problema. Se houvesse Deus, este seria o erro na cadeia dos seres humanos criados por ele: alguém sem problemas em maltratar, dado que ele também não sente e só a empatia nos permite entender o sofrimento de outro como sendo verídico, i.e. passível de existência real.


Mais ainda, do ponto de vista científico, estes indivíduos são um erro na corrente evolucionista porque, apesar do seu intelecto “normal”, nalguns casos até apresentando um Q. I. elevado em termos de produtividade, linguagem, memória e outros processos cognitivos, eles não são capazes de evoluir porque têm dificuldade em experienciar e expressar emoções, pelo que lhes falta a capacidade de se guiarem na vida pelos famosos marcadores somáticos; ou seja, não têm a possibilidade de fazerem escolhas acertadas no presente e no futuro, dado que não retiveram nada do seu passado relativamente às emoções boas ou más que viveram, não tendo por isso a rapidez na resposta e muito menos o cuidado e a atenção que têm aqueles que guardam as experiências afectivas como barómetros de tomadas de decisão. Pois são essas experiências que ditam as escolhas fundamentais, o sucesso do ser humano. A inabilidade destes seres humanos de se guiarem pelo sentimento é o erro da cadeia humana. Assim, o narcisista maligno é tão errado dentro da Humanidade como um vírus destruidor está errado num sistema informático.


Interessante é notar que algumas afirmações de Damásio o aproximam da teoria do falibilismo (do latim falibillis, i.e. passível de erro), sobretudo aquelas em que ele demonstra a sua convicção de que todos os resultados científicos são aproximações provisórias. Ou seja, o ser humano vive em verdade passageira, o mesmo é dizer em erro temporário.


Para terminar este texto de uma forma mais leve, vou partilhar este pensamento com vocês: sempre que penso em “erro”, penso no Charles Schulz e num cartoon do Snoopy em que Charlie Brown ficava acordado à noite a pensar “mas onde é que eu errei?”… para chegar à conclusão que precisava de mais do que uma noite inteira para responder a essa questão.


Wednesday, May 4, 2011

Os Açores na Política Internacional - de José Medeiros Ferreira


“A geografia é um vaso várias vezes modelado pelo Homem” Orlando Ribeiro


O papel que os Açores desempenharam na política internacional não se resume a uma resenha histórica desde os finais do séc. XIX até aos nossos dias, neste livro de José Medeiros Ferreira. Pelo contrário. A análise lúcida dos acontecimentos, a revelação de alguns documentos, as comparações inteligentes incluindo afirmações ousadas e o desfazer de mitos estão felizmente muito para além do coleccionismo eventual que caracteriza outros trabalhos e autores de História Contemporânea e Relações Internacionais, cuja perspectiva tende, por vezes, a inibir-se perante o ainda protagonismo vivencial dos que lá são referidos. Não é, pois, exagero dizer que José Medeiros Ferreira adopta efectivamente “uma nova forma de pensar a região e de conceber a sua articulação com o mundo”, como se lê na contracapa.


Determinar a importância dos Açores no panorama geoestratégico mundial é uma questão tão antiga quanto falada, porém raras vezes apreendida pelos próprios açorianos dada a sua complexidade e intensidade dos diversos jogos de influências. Como bem afirma e demonstra o autor nestas páginas, os Açores não foram sujeitos dos acontecimentos, apesar da sua importância posicional; foram, isso sim, objecto usado por outros sendo o seu relevo absolutamente determinado por circunstâncias históricas e eventos políticos que em muito os ultrapassaram.


Cronologicamente, a obra inicia-se com o estabelecimento da rede de Cabos Submarinos e, quase simultaneamente e em estreita conexão, do Observatório Meteorológico no Faial. Tratavam-se, à luz da época, de meios de transmissão tecnológicos avançados e de equipamentos científicos cuja importância foi amplamente usada, mas também cujo cobiçado serviço chegou a ser – como seria de esperar em questões políticas – motivo para neutralização e sonegação de informações.


Assim, as ilhas, e nomeadamente o Faial, mercê da sua localização geográfica ímpar entre continentes, começaram por ser encarados como plataformas logísticas ideais para a implementação de inovações científicas e tecnológicas.


José Medeiros Ferreira aliás, nunca abandona a ideia de que esta ainda é e será  sempre a principal mais valia dos Açores no quadro internacional, oferecendo também como exemplos mais recentes a Estação Iternacional de infra-sons e detecção de ensaios nucleares da Graciosa, a estação da Agência Espacial Europeia (ESA) em Santa Maria – o mais avançado que Portugal possui no âmbito da tecnologia espacial - e mesmo a Região de Informação de Voo desta ilha (que em conjunto com a de Lisboa tem uma área 51 vezes superior à do Continente português) e, finalmente, o Departamento de Oceanografia e Pescas  e o Instituto do Mar no Faial que, segundo o autor, é uma instituição ímpar que ocupa o 14º lugar a nível mundial na sua área de investigação, consitutuindo, portanto, um dos principais pilares da excelência oceanográfica actuais.


Esta distinção é tanto mais importante quanto José Medeiros Ferreira crê que os Açores estão em plena mudança de paradigma quanto às suas relações com a política europeia, nomeadamente em termos contributivos e decisivos, nos quais se destaca indubitavelmente a área da Política Marítima. Naturalmente que aqui entramos num campo  prospectivo, mas considerando os eixos à volta dos quais esta política se organiza a nível europeu, fácil é verificar que os Açores acrescentam algo e não são apenas a fonte de despesas nacionais que tantas vezes nos fazem crer; vistos por esse prisma, os Açores são uma mais valia para Portugal no âmbito da União Europeia.


José Medeiros Ferreira não deixa de passar em revista a importante situação dos Açores nas duas Guerras Mundiais e no tempo que mediou entre estas, considerando certas jogadas portuguesas (como a importância política que o Governo de Salazar quis atribuir ao acordo francês para a estação de telemetria das Flores que, afinal, não tinha nem tanta utilidade nem tanta pompa como aquela com que a enfeitámos, ou os pedidos portugueses de licença a Londres para aceitar os acordos com os americanos, nomeadamente na época das Grandes Guerras). É também dado destaque a algumas situações que desmistificam certas feridas antigas entre as ilhas, considerando-se umas ainda hoje “roubadas” por outras de um prestígio que anteriormente possuíam. Assim, e reportando-me ao mais localista, o porto do Faial não perdeu a sua importância para S. Miguel porque isso tenha sido ditado pelo poder local mas sim porque a Marinha americana necessitava urgentemente de um porto de maior dimensão na Primeira Grande Guerra; foi a Eastern Telegraph que retirou ao Faial a centralidade das comunicações via rádio no arquipélago, referindo que a montanha do Pico era um impasse a certas transmissões; quando a Marinha deu lugar à Aviação como força primordial, as Lajes da Terceira e a sua grande pista, à época de terra batida, passou a ser o centro dos interesses internacionais nos Açores (sendo, aliás, uma pista melhorada por fundos estrangeiros para seu próprio uso),… e a lista continua, numa óbvia conclusão: as ilhas não se “retiraram” vantagens inter pares; foram utilizadas conforme os interesses momentâneos de outros.


Daqui, advêm duas conclusões fundamentais. A primeira é que algumas ilhas são claramente mais pró-europeias e outras fundamentalmente pró-americanas, mercê de influências e contactos estabelecidos ao longo dos tempos. Isto talvez não tenha tido importância até agora, mas poderá ser crucial no futuro em tomadas de posição nas relações entre “correntes mais continentalistas e outras mais atlantistas”. A segunda conclusão é delicada e analítica: José Medeiros Ferreira expõe, em quadro, os fundos que os Açores receberam de 1990 a 97 do Acordo feito entre as ilhas e os EUA e também os fundos vindos da UE. Numa perspectiva propositadamente comparativa, fácil é verificar porque incentivaram tanto os americanos a nossa entrada na UE: é que quanto mais recebemos da UE, menos recebemos dos EUA.


Nesta obra, estão também analisados os movimentos autonomistas nos Açores à luz da visão internacional sobre os mesmos e ainda a posição que os Açores têm na UE , enquanto região autónoma e ultraperiférica, mas sem o estatuto particular pelo qual optaram as Canárias, nem a excentricidade dos departamentos franceses ultramarinos; ainda assim, mais arquipelágica e oceânica que a Madeira.


Assim, e na opinião de José Medeiros Ferreira, o maior bem dos Açores é a sua unidade insular enquanto Região Autonóma. Porém, esta unidade entre ilhas “não é um dado adquirido tendo em conta a evolução mundial” que poderá levar a uma infeliz desagregação da coesão açoriana (?).



Esta obra de José Medeiros Ferreira  é, sem dúvida, muito animadora. Em época de crise geral, o livro contradiz o pessimismismo, dando-nos provas históricas de que os Açores foram uma espécie de joguete num campeonato no qual não tinham voz, mas também apresentando a convicção de que nunca estivemos tão conscientes do nosso poder estratégico e enquanto possível centro de pesquisa como hoje e que nunca tivemos tanto capital humano capaz de o utilizar. Assim, saibamos nós dar valor às pessoas que poderão fazer a diferença nuns Açores, numa Europa e num Mundo em mudança. No entanto, também se adverte que as influências que se movem à volta dos Açores e dos quais as ilhas, pelo seu próprio tamanho e geografia, dependem e interseccionam, não são forças estáticas: hoje, a Europa e a América são continentes cooperantes, mas o futuro poderá ser diferente… Fundamentalmente, para que não se repitam erros do passado e para que os Açores continuem a ter uma palavra a dizer, há que apostar fortemente na coesão inter-ilhas, no desenvolvimento de todas e na sua representação equitativa em termos de representação política. É, sem dúvida, um papel que cabe ao Governo. Mas o Governo só faz aquilo que lhe for exigido pelos cidadãos.


P.S.: Este livro iria também ser lançado na Horta este mês de Abril no âmbito do Colóquio Internacional “Os Açores, a I Guerra Mundial e a República Portuguesa no Contexto Internacional”, que decorreu na Biblioteca Pública João José da Graça. Infelizmente, a nossa condição insular ainda condiciona a tecnologia aeronáutica disponível e o apresentador do livro, Doutor Carlos Riley, viu-se impedido de chegar a tempo devido ao cancelamento de avião. No entanto, o livro está por cá e foi discutido, embora não oficialmente lançado. Como disse José Medeiros Ferreira, no término do mesmo: “Por muito que a geografia impere, é o espírito humano que a compreende e utiliza”.