... "And now for something completely different" Monty Python

Friday, May 27, 2011

Pedras Negras de Dias de Melo

Pedras Negras, assumidamente parte de uma trilogia que inclui também os romances Mar Rubro e Mar p’la Proa, é o livro mais emblemático de Dias de Melo, estando traduzido para inglês e japonês. Publicado em 1964, o romance é bem o retrato de um mundo pequenino de janelas abertas para o mar, cuja história salgada e escura é surpreendentemente elevada ao universal pelos seus contornos trágicos. A baleação e todo o seu aparato dramático ocupam lugar central. O protagonista é Francisco Marroco, cujas dificuldades são grandes em encaixar-se naquele mundo(inho) pesado, injusto, ganancioso e mesquinho, dividido ao meio para poderosos e trabalhadores, com pesos diferentes para ambos. Também aqui se aborda a sempre eterna porque sempre actual problemática da emigração do ilhéu que vê a América como uma namorada caprichosa, que ora lhe dá carinho ora lhe mostra as unhas. Depois, os retornos a casa, os ajustes de contas, as vítimas que passam a algozes, as rebeldias que têm de ser castigadas numa realidade que não suporta e inveja novidades. O tempo como senhor dominante, fazendo e desfazendo, em ciclos que não se quebram.


O “homem do cachimbo” nasceu na Calheta do Nesquim da Ilha do Pico em 1925, morrendo em S. Miguel – na cidade onde viveu grande parte da sua vida - em 2008.  Professor em Ponta Delgada, exerceu a profissão também em Lisboa, para onde foi obrigado a “exilar-se” aquando da perseguição que lhe foi feita antes do 25 de Abril. Nessa sua estadia, colaborou assiduamente com o Diário de Notícias. Foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Mário Soares. É unanimemente considerado o escritor da faina baleeira, motivo maior das suas obras numa carreira literária de meio século.