Pedras Negras, assumidamente parte de uma trilogia que inclui também os romances Mar Rubro e Mar p’la Proa, é o livro mais emblemático de Dias de Melo, estando traduzido para inglês e japonês. Publicado em 1964, o romance é bem o retrato de um mundo pequenino de janelas abertas para o mar, cuja história salgada e escura é surpreendentemente elevada ao universal pelos seus contornos trágicos. A baleação e todo o seu aparato dramático ocupam lugar central. O protagonista é Francisco Marroco, cujas dificuldades são grandes em encaixar-se naquele mundo(inho) pesado, injusto, ganancioso e mesquinho, dividido ao meio para poderosos e trabalhadores, com pesos diferentes para ambos. Também aqui se aborda a sempre eterna porque sempre actual problemática da emigração do ilhéu que vê a América como uma namorada caprichosa, que ora lhe dá carinho ora lhe mostra as unhas. Depois, os retornos a casa, os ajustes de contas, as vítimas que passam a algozes, as rebeldias que têm de ser castigadas numa realidade que não suporta e inveja novidades. O tempo como senhor dominante, fazendo e desfazendo, em ciclos que não se quebram.
O “homem do cachimbo” nasceu na Calheta do Nesquim da Ilha do Pico em 1925, morrendo em S. Miguel – na cidade onde viveu grande parte da sua vida - em 2008. Professor em Ponta Delgada, exerceu a profissão também em Lisboa, para onde foi obrigado a “exilar-se” aquando da perseguição que lhe foi feita antes do 25 de Abril. Nessa sua estadia, colaborou assiduamente com o Diário de Notícias. Foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Mário Soares. É unanimemente considerado o escritor da faina baleeira, motivo maior das suas obras numa carreira literária de meio século.